quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Carta Dirigida ao Ministro Luiz Roberto Barroso

São Paulo, 30 de agosto de 2018.
Ao Exmo. Ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso.
Prezado Ministro,
"Nós, cidadãos brasileiros que sempre participamos da vida pública, temos em do Estado e a comum a preocupação com a democracia, a garantia dos direitos humanos, a legitimidade credibilidade internacional do Brasil”.
Vossa Excelência tem professado com vigor valores humanistas. Em seu livro, A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional Contemporâneo, afirma que ...
"...a globalização do direito é uma característica essencial do mundo moderno, que promove, no seu atual estágio, a confluência entre Direito Constitucional, Direito Internacional e Direitos Humanos. As instituições nacionais e internacionais procuram estabelecer o enquadramento para a utopia contemporânea: um mundo de democracias, comércio justo e promoção dos direitos humanos".

Nesse contexto, Vossa Excelência já se manifestou em algumas ocasiões sobre a importância de o Estado brasileiro cumprir as decisões exaradas por órgãos internacionais, advindas de tratados internacionais de direitos humanos recepcionados pelo Brasil.

No julgamento de uma Questão de Ordem em que se discute a legalidade das candidaturas livres no sistema político brasileiro, V. Exa. ressaltou o caráter supralegal do Pacto de San José da Costa Rica. No mesmo sentido, quando foi sabatinado pelo Senado Federal, V. Exa. lembrou que o estágio atual da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é a de que os tratados internacionais têm um nível supralegal; estão acima da lei.

Em 17 de agosto de 2018, o Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), um "órgão de tratado" (treaty body) do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, acolheu o pedido com caráter de liminar proposto pelo ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva por intermédio de seus advogados. No documento do Alto Comissariado de Direitos Humanos que comunica a decisão, ressalta-se que o Comitê requisita ao Estado brasileiro "tomar todas as medias necessárias" para assegurar o exercício dos direitos políticos do ex-Presidente na qualidade de candidato – o que inclui o acesso à imprensa e aos membros de seu partido – "até que seus recursos diante dos tribunais sejam julgados de forma definitiva em procedimentos judicias justos".

Confiamos que V. Exa., que tem demonstrado forte compromisso com a democracia e com a justiça, levará em consideração esses valores ao analisar as questões envolvendo a candidatura do ex-Presidente Lula.
Com elevados protestos de estima e respeito, subscrevemo-nos,
Atenciosamente,
Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda, da Administração Federal, e da Ciência e Tecnologia
Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa.
Luiz Felipe Alencastro, professor titular da Universidade Sorbonne e da Fundação Getúlio Vargas.
Paulo Sérgio Pinheiro, Presidente da Comissão de Investigação da ONU sobre a Síria e ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos.
Maria Vitoria de Mesquita Benevides, professora titular da USP.
Dalmo Abreu Dallari, professor titular da USP.
Fábio Konder Comparato, professor titular da USP.
Pedro Celestino Pereira, engenheiro.



dan2010: Transferências de valores (não econômicos)

dan2010: Transferências de valores (não econômicos): Não é difícil de ver! As pessoas transferem às imagens que vêem, e às coisas que ouvem, tudo o que carregam dentro de si.  Tomo como exempl...

Transferências de valores (não econômicos)

Não é difícil de ver! As pessoas transferem às imagens que vêem, e às coisas que ouvem, tudo o que carregam dentro de si. 
Tomo como exemplo a recente entrevista da globo, com o presidenciável Jair Bolsonaro! Teve gente que viu a Renata se ferrando e o Bonner ser chamado de chifrudo!!! Teve gente que viu a Renata dar uma paulada no entrevistado, daquelas de tirar o couro! Teve gente que descobriu quantos reais eles ganham na globo e teve gente que viu até os holerites!!!! Teve gente que quase viu a Fátima lá!!!!!! 
O que só mostra que a minha primeira frase é verdadeira!
Isso chama-se linguagem e não é nenhuma surpresa para mim. Nada tem a ver com a postura correta ou incorreta daqueles que estavam na TV. Tem a ver com a nossa visão! 
Cada um vê o que quer, do jeito que quer ver e embasado em suas crenças pessoais e em todas as coisas que passou durante a vida! 
O que eu vi? 
Eu vi de um lado um doido! Que fala bem, não gagueja, tem tudo na ponta da língua, mas é doido de pedra! Tão doido que poderia ser cômico, se não fosse trágico! O cristão, de arma na mão! Do outro lado, os entrevistadores, protegidos pelo escudo da globo, tentando apertar o doido, e acuados por ele! 
Foram todos preparados para o que vinha. Bonner e Renata sabiam quem estaria ali, já chegaram armados! Agora o Bolsonaro, esse já anda armado, não? 
Enfim! Eu vi alguns pontos fortes e nenhum deles passa pelo casamento de Bonner e muito menos pelo salário de Renata. O primeiro foi Bolsonaro dizer que casamentos acabam (o que é uma verdade absoluta), mas que eles, os homens, precisam de uma mulher reserva! 😱😱😱
O que só poderia ser pior, caso ele desse a entender que a "reserva" do Bonner seria a Maju! Aí ele já matava a pau, machismo, racismo e preconceito, tudo de uma vez só! Coisas que ele jura não ser! E ainda matava a Fatima! De vergonha claro! 
O outro grande momento foi Renata, que ao se sentir agredida pela deselegância do candidato, posicionou-se! Elegantemente, com dignidade e com uma postura impecável. Ela não disse que ganha a mesma coisa que Bonner! Ela disse que "jamais aceitaria ganhar menos que um homem que tivesse as mesmas funções que ela"! O que não é o caso, certamente! E quando respondeu com tamanha serenidade, apesar do ódio mortal que devia estar sentindo, respondeu por todas nós mulheres! E olha que teve mulher que não gostou viu? E isso explica porque o mundo ainda é dominado pelos homens! Nem machismo, nem feminismo. É simples! Homem defende homem, mulher ataca mulher! 
Teve também a hora dos 20 ou 30 tiros contra os "bandidos", que "se um pegar já tá bom". Esquecendo-se que esse um que pega, também pega inocente e que não se apaga fogo, jogando mais fogo (pelo menos eu acho).
E por aí vai, ou melhor, e por aí foi! 
Bem, essa é só a minha "modesta" opinião. Aquilo que vi, embasado naquilo que sou e que meus olhos e meu coração me deixam ver! 
Agora o que eu vi pra valer mesmo, foi zero de programa de governo, zero de solução, zero de política social, zero preocupação com a nação, zero eleição, zero Brasil! 
E do lado de cá, expectadores homens e mulheres, abobalhados, loucos para meter os pés pelas mãos, enquanto os mais espertos vão metendo a mão nos bolsos da gente. 
E o nariz de palhaço... pode desengavetar viu? 
Pelo andar da carruagem, a gente vai coloca-lo na cara já, já.
Texto de Ana Paula Barbério Bogdan
Alfio Bogdan - Físico e Professor e pai da moçoila. 
https://plus.google.com/+AlfioBogdan

Carta de Lula ao povo do Rio Grande do Sul.


“Cara Taline, caro Juremir.
Queridos e queridas ouvintes da Rádio Guaíba.
No final de março deste ano, visitei o Rio Grande do Sul, estado que durante meu governo recebeu mais investimentos, teve mais desenvolvimento e gerou mais empregos do que nunca antes na história desse estado. Poucos dias depois, eu seria preso sem nenhuma prova de qualquer crime cometido.
Na verdade, meus adversários fizerem de mim um preso político por dois crimes que cometi. O primeiro crime foi governar para todos, cuidando com especial carinho dos mais necessitados, combinando crescimento econômico com justiça social. Meu segundo crime, decorrente do primeiro, foi ser o favorito do povo brasileiro para vencer a eleição de 7 de outubro.
Na ocasião da visita ao estado, eu e minha caravana fomos tratados com muito carinho pelo povo trabalhador gaúcho. Mas fomos também recebidos a pedradas e chicotadas por alguns representantes da elite que durante 500 anos se julgou dona deste país e que não por coincidência tratou o povo brasileiro a chicotadas.
Importante lembrar que tal ato de violência foi elogiado por uma senadora gaúcha, hoje candidata a vice presidente na chapa tucana. Aliás, quando logo depois o ônibus em que eu viajava foi atingido a tiros no Paraná, o candidato do PSDB a presidente da República justificou o ato terrorista dizendo: “O PT colhe o que planta”. Este é o retrato fiel da elite brasileira.
Quando estive aí, fiz questão de visitar São Borja, cidade onde nasceram Getúlio Vargas e João Goulart e onde também está o túmulo do Leonel Brizola, três gaúchos que, cada a um a seu tempo e a sua maneira, lutaram pelo povo trabalhador brasileiro, pagando caro por isso.
Getúlio foi levado ao suicídio. Jango foi deposto pelo golpe civil e militar de 1964 e obrigado a deixar o Brasil. Brizola sofreu uma perseguição implacável da Globo, perseguição que só seria superada pela sórdida campanha que essa empresa moveu e move contra mim, a presidenta Dilma e o Partidos dos Trabalhadores. A Rede Globo chegou ao cúmulo de censurar a minha campanha a presidente, achando que com isso ela vai fazer o povo se esquecer de mim. A verdade é que o povo tem memória e não se esquece de quem mais lutou pelos seus direitos e pela sua dignidade.
Naquela última entrevista que dei a vocês, Taline e Juremir, lembrei o que fizemos pelo Rio Grande do Sul durante os nossos governos, que foi cuidar dos mais pobres, da educação, da infraestrutura. Foi desenvolver a indústria, fazer a economia crescer e gerar milhares de empregos.
Lembrei que o Porto de Rio Grande chegou a ter 24 mil trabalhadores, antes que o governo ilegítimo de Temer, com apoio dos tucanos, destruísse a indústria naval brasileira. Hoje, o Brasil está sendo desmontado e vendido a preço de banana, e o Rio Grande do Sul não consegue sequer honrar a folha de pagamento dos servidores.
É por causa disso que sou candidato a presidente da República, tendo como vice o Fernando Haddad, o melhor prefeito e o melhor ministro da Educação que este país já teve. É por causa disso que o Miguel Rossetto é candidato ao governo e o Paulo Paim disputa um novo mandato de senador. É porque acreditamos que o Brasil e o Rio Grande do Sul merecem ser felizes de novo. E serão.
“Um grande abraço para todo o povo gaúcho”.
Luiz Inácio Lula da Silva,
candidato a presidente do Brasil
Alfio Bogdan - Físico e Professor 
inicialmente no site do PT. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Não se trata de compadrio nem tão pouco de subordinação

<<<DEFESA DE DIREITOS
Especialistas comentam pronunciamento da ONU a favor de Lula
17 de agosto de 2018, 20h33 | Mariana Oliveira
Ao defender o direito de o ex-presidente Lula se candidatar a presidente da República, a ONU provocou um debate sobre a influência de pronunciamentos de órgãos internacionais no território brasileiro.
Para a Organização das Nações Unidas, mesmo preso, Lula deve ter seus direitos políticos de concorrer às eleições de outubro garantidos.

Para o advogado Michel Saliba, um dos autores do livro Vontade Popular e Democracia — Candidatura Lula?, o Estado deve se submeter à determinação, uma vez que é signatário de diplomas normativos.
"O Judiciário brasileiro pode até se negar a aplicar a referida decisão, por entender se tratar de recomendação, despida de caráter cogente, isso, todavia, poderá ter proporções muito negativas no âmbito das relações internacionais", afirma.
Já de acordo com o constitucionalista Lenio Streck, embora a situação do Judiciário brasileiro seja uma "saia justa", a Procuradoria-Geral da República já tomou decisão no sentido da obrigatoriedade de seguir e cumprir uma determinação internacional, ainda que em caráter provisório. 

"Claro que os advogados do ex-presidente podem usar a decisão da ONU como preliminar na defesa das impugnações ao registro, mas o competente para dizer a palavra final acerca do cumprimento ou não da decisão é o STF", comenta o advogado.

Michel Saliba, advogado e professor:
A partir do momento em que o Estado Brasileiro é signatário de diplomas normativos internacionais, ele (Estado) deve se submeter às decisões embasadas nestes diplomas, notadamente quando emanadas pelo mais importante organismo mundial: a Organização das Nações Unidas. 
Prestar jurisdição é uma das funções do Estado, logo, suas deliberações estão sujeitas à observância das orientações e decisões da ONU, sem que com isso haja qualquer violação à soberania nacional.

O Judiciário brasileiro pode até se negar a aplicar a referida decisão, por entender se tratar de recomendação, despida de caráter cogente, isso, todavia, poderá ter proporções muito negativas no âmbito das relações internacionais. 
Se o próprio STF, nos debates que concluíram pela interpretação da execução antecipada da pena, e que hoje inclusive atinge o ex-presidente Lula, teve como indicativos de alguns debates as conclusões de organismos internacionais sobre uma suposta impunidade no Brasil, seria, no mínimo, não retilíneo que o Judiciário deixasse de se orientar por uma decisão específica da ONU, principalmente porque trata de proteção às garantias fundamentais e aos direitos humanos.
“Confio — e sempre confiei — muito na isenção e imparcialidade do Tribunal Superior Eleitoral, e não poderia ser diferente."
Lenio Streck, jurista e professor de Direito Constitucional:
Eis uma saia justa para o judiciário brasileiro e para a Procuradoria-Geral da República. Explico. Há duas teses: a dualista e a monista. Pela primeira, o Brasil não tem obrigação. Pela monista, sim. O STF não sufraga a tese monista. Sua posição é “dualista-moderada”. A Constituição Federal não diz se o Brasil deveria ser dualista ou monista.
No entanto, o artigo 5º, parágrafo 2º, da CF dá azo a que se dê obrigatoriedade a tratados que tratem de direitos humanos. É o que se chama de bloco de constitucionalidade. Por essa tese monista, é possível sustentar a obrigatoriedade quando se trata de direitos humanos. Seria o caso da decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU.

O Brasil firmou esse pacto, que trata da competência do Comitê de direitos Humanos da ONU sobre assuntos desse tipo. É uma obrigação politica, jurídica e moral. O artigo primeiro é claro. Não esqueçamos que há um decreto legislativo (311 de 2009) incorporando o Pacto ao ordenamento brasileiro.
Como sempre, essa discussão acabará no STF. Claro que os advogados do ex-presidente podem usar a decisão da ONU como preliminar na defesa das impugnações ao registro. De todo modo, o competente para dizer a palavra final acerca do cumprimento ou não da decisão é o Supremo.
O fato é que existe decisão internacional que, no caso, em caráter provisório, dá um comando à justiça brasileira, por mais contestações que isso venha a gerar no meio político e jurídico.
Tem um detalhe interessante: na ADPF 320, que o PSOL impetrou sobre uma decisão da Corte Interamericana que condenou o Brasil à época,  a posição da Procuradoria-Geral da República vai nessa linha da obrigação de cumprimento de decisão internacional.
Há uma parte no parecer de Rodrigo Janot em que ele diz:
"não é admissível que, tendo o Brasil se submetido à jurisdição da CIDH, por ato de vontade soberana, despreze a validade e a eficácia da sentença. Isso significa flagrante descumprimento dos compromissos internacionais do país".
Não é desarrazoado dizer que a decisão do Comitê da ONU, ainda que provisória, é equiparável à decisão da CIDH. Portanto, vamos ver o que dirá a PGR, agora. “Se levarmos em conta a posição de Janot, então chefe da Procuradoria, cabe ADPF junto ao STF para fazer cumprir a decisão do comitê da ONU.” A ver, pois!>>>

Cabe a lembrança da reunião dos executivos das petrolíferas e homens do governo Trump e a Presidente do STF após o que o Brasil colocou o STF aos caprichos dos organismos dos eua. 
Alfio Bogdan - Físico e Professor 
Texto original no Conjur

domingo, 5 de agosto de 2018

dan2010: Conceito de política segundo Norberto Bobbio

dan2010: Conceito de política segundo Norberto Bobbio: Norberto Bobbio (1909-2004) foi um dos maiores politólogos (politicólogo) do século XX. Dentre sua extensa obra, deixou uma importante c...

Conceito de política segundo Norberto Bobbio



Norberto Bobbio (1909-2004) foi um dos maiores politólogos (politicólogo) do século XX. Dentre sua extensa obra, deixou uma importante contribuição à Ciência Política: seu livro Teoria Geral da Política: a filosofia política e as lições dos Clássicos. Este texto tentará abordar ligeiramente algumas considerações sobre o conceito de política na visão desse autor.

A palavra política deriva de politikós, do grego, e diz respeito àquilo que é da cidade, da pólis (na Grécia Antiga), da sociedade, ou seja, que é de interesse do homem enquanto cidadão. Já na Grécia Antiga, um dos primeiros a tratar da política como uma prática intrínseca aos homens foi Aristóteles, com seu livro A Política.
Ao longo do tempo, o termo política deixou de ter o sentido de adjetivo (aquilo que é da cidade, sociedade) e passou a ser um modo de “saber lidar” com as coisas da cidade, da sociedade. Assim, fazer política pode estar associado às ações de governo e de administração do Estado. Por outro lado, também diria respeito à forma como a sociedade civil se relaciona com o próprio Estado.
Mas para Norberto Bobbio, falar em política enquanto prática humana conduz, consequentemente, a se pensar no conceito de poder. [ O poder estaria ligado à ideia de posse dos meios para se obter vantagem (ou para fazer valer a vontade) de um homem sobre outros]. Assim, o poder político diria respeito ao poder que um homem pode exercer sobre outros, a exemplo da relação entre governante e governados (povo, sociedade). Contudo, ao falar em poder político, é preciso pensar em sua legitimação. Podemos ter poderes políticos legitimados por vários motivos, como pela tradição (poder de pai, paternalista), despótico (autoritário, exercido por um rei, uma ditadura) ou aquele que é dado pelo consenso, sendo este último um modelo de governo esperado.
âO poder exercido pelo governante em uma democracia, por exemplo, dá-se pelo consenso do povo, da sociedade. No caso brasileiro, o poder da presidenta é garantido por que existe um consenso da sociedade que o autoriza e, além disso, há uma Constituição Federal que formaliza e dá garantias a esse consenso.á
Conforme nos mostra Norberto Bobbio (2000), há uma tipologia moderna das formas de poder, como poder econômico, poder ideológico e poder político, sendo que este último seria aquele no qual se tem a exclusividade para o uso da força. Nas palavras de Bobbio (ibidem, p. 163), “o poder político, enfim, funda-se sobre a posse dos instrumentos através dos quais se exerce a força física (armas de todo tipo e grau): é o poder coativo no sentido mais estrito da palavra”. Contudo, Norberto Bobbio também aponta que não é apenas o uso da força, mas sim seu monopólio, sua exclusividade, que tem o consentimento da sociedade organizada. Em outras palavras, será uma exclusividade de poder que pode ser exercida sobre um determinado grupo social, em determinado território.
Outro aspecto importante para Bobbio sobre a política é que sua finalidade ou seu fim não pode se resumir apenas em um aspecto, pois “[...] os fins da política são tantos quantas forem as metas a que um grupo organizado se propõe, segundo os tempos e as circunstâncias” (ibidem, p. 167). Porém, um fim mínimo à política (enquanto poder de força) é a manutenção da ordem pública e a defesa da integridade nacional. Essa finalidade é mínima para a realização de todos os outros fins do poder político. Porém, é importante se atentar para o fato de que o poder político não pode ter como finalidade o poder pelo poder, pois se assim fosse perderia o sentido.
Norberto Bobbio, citando Carl Shmitt, também fala da ideia de política como relação amigo-inimigo, dizendo que “o campo de origem e de aplicação da política é o antagonismo, e sua função consistiria na atividade de agregar e defender os amigos e de desagregar e combater os inimigos” (ibidem, p. 170). No debate de ideias para se pensar a ordem social, essa oposição é fundamental, contudo, apenas esse nível de antagonismo pode ser tolerado pelo Estado, uma vez que a extrema divisão ou situação de conflito entre aqueles que compõem uma sociedade poderia levar ao caos.
No exercício de compreensão do conceito de política, deve-se considerar que na filosofia política moderna aquilo que é político não necessariamente coincide com o social, pois, ao longo da história, as outras esferas da vida foram se separando do Estado, a exemplo do poder religioso e do poder econômico. Na visão de Bobbio, a política restringe-se à esfera do Estado, instituição esta responsável pela ordem social. Para Bobbio, “enquanto a filosofia política clássica está alicerçada sobre o estudo da estrutura da pólis e das suas várias formas históricas ou ideais, a filosofia política pós-clássica caracteriza-se pela contínua tentativa de uma delimitação daquilo que é político (o reino de César) em relação àquilo que não é político (seja ele o reino de Deus ou o reino das riquezas), por uma contínua reflexão sobre aquilo que diferencia a esfera da política da esfera da não política, o Estado do não Estado...” (ibidem, p. 172).

O processo de emancipação da sociedade no sentido de seu “funcionamento” sem a presença do Estado poderia levar ao fim da política enquanto ação coercitiva para coesão social. Em outras palavras, se a sociedade conseguisse manter sua ordem sem o poder político (que usa da força), ela não precisaria mais do Estado.
Nesse mesmo livro, Bobbio também fala da relação entre política e moral, uma vez que ambas estão ligadas à ação (à práxis) humana. Porém, aquilo que fundamenta ou motiva, ou aquilo que é permitido ou proibido, nem sempre tem o mesmo sentido para a política e para a moral. Segundo Bobbio, pode haver “ações morais que são impolíticas (ou apolíticas) e ações políticas que são imorais (ou amorais)” (ibidem, p. 174), distinção esta que, aliás, já se fazia presente na obra de Nicolau Maquiavel. Dessa forma, seria preciso considerar que existem razões e ações do Estado que são justificadas quando por ele praticadas, mas jamais permitidas a um indivíduo. A política seria a razão do Estado, enquanto a moral seria a razão do indivíduo. Assim, seria preciso pensar na autonomia da ação política, a qual é motivada por razões que não são as mesmas da ação individual.  
Em suma, dessa breve explanação sobre alguns aspectos da obra citada de Norberto Bobbio, pode-se inferir que, em linhas gerais, sua posição tenta compreender a política como “atividade ou conjunto de atividades que têm de algum modo, como termo de referência, a pólis, isto é, o Estado” (ibidem, p. 160).
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/ideia-politica-norberto-bobbio.htm.
Alfio Bogdan - Físico e Professor.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

dan2010: Luiz Gonzaga Belluzzo bate forte em Meirelles

dan2010: Luiz Gonzaga Belluzzo bate forte em Meirelles: Rede Brasil Atual  - Aprisionados em "modelos econométricos" cada vez mais distantes da realidade social, economistas l...

Luiz Gonzaga Belluzzo bate forte em Meirelles



Aprisionados em "modelos econométricos" cada vez mais distantes da realidade social, economistas liberais continuam aferrados à ideia de cortar gastos como única alternativa possível para garantir o equilíbrio das contas públicas, sem levar em consideração o impacto dessas políticas de austeridade no dia a dia das pessoas. Em entrevista à Rádio Brasil Atual nesta segunda-feira (30/7), o economista Luiz Gonzaga Belluzzo critica o que chama de "viralatice fiscal" que não só não conserta como aprofunda os efeitos da crise, principalmente sobre os mais pobres, submetidos a empregos precários e obrigados a recorrerem a bicos para complementar a renda.


"A economia – isso deveria ser banal – deve servir à vida das pessoas. É claro que há restrições, mas cada vez menos. A economia das novas tecnologias seria uma forma de superar a escassez, se funcionassem direito. Só que essa possibilidade de garantir a oferta de bens para todos é bloqueada por relações sociais que fazem com que uns se apropriem dessa abundância toda, em detrimento de outros",diz Belluzzo,...
...que na entrevista detalhou aspectos do artigo A desumanização da economia, publicado na revista CartaCapital.
"Estou falando em desumanização porque, na verdade, os modelos econômicos dizem que o Estado não pode gastar, o que é uma mentira deslavada. Nessa hora, deve-se arrumar um jeito de gastar, visando ao aumento do emprego, dos salários e da renda das empresas. O que estamos assistindo é uma ortodoxia um tanto burra, porque é desnecessária. A economia está com capacidade ociosa, as empresas querendo aumentar o seu faturamento e não podem", explica o economista.    
"O caso do Meirelles (ex-ministro da Fazenda e pré-candidato do MDB à Presidência), p.e., é patético. Eles todos são patéticos. Ficam dizendo que a economia vai crescer, enquanto fazem tudo errado. Isso é a desumanização da economia. Eles não pensam nas pessoas que estão sofrendo", critica Belluzzo.
Em vez de insistir em cortar gastos que impactam na redução da renda e no aumento do desemprego para o conjunto da população, o economista defende a criação de um pacote de investimentos, principalmente em obras públicas, que tem "capacidade multiplicadora". Políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família e as aposentadorias, também têm o efeito de aumentar o consumo, criando empregos e reduzindo as desigualdade, afirma o economista.
Belluzzo usa a construção de uma barragem para ilustrar como o investimento em obras públicas pode contribuir para destravar a economia, além de melhorar a vida das pessoas. Essa mudança de orientação na política econômica traria como resultado o aumento do emprego formal, e colabora inclusive para o equilíbrio fiscal, já que com a economia aquecida, aumenta também o pagamento de impostos.
"Numa obra como essa, contratam-se trabalhadores, que vão gastar a renda que recebem. Ao mesmo tempo, fazem-se encomendas de equipamentos etc., o que também faz com que as empresas fornecedoras contratem mais trabalhadores. E isso é o chamado efeito multiplicador. Aumenta-se assim a capacidade de consumo como um todo, o que atrai investimentos. As empresas fornecedoras de máquinas, equipamentos e serviços vão alargando o espaço de circulação da renda."   
Alfio Bogdan - Físico e Professor