Originalmente no DCM.
O jornalista italiano Francesco Guerra desossou no site Next a
analogia que Moro fez entre ele e o juiz italiano Giovanni Falcone.
Moro enviou mensagem à Ajufe (Associação dos Juízes
Federais do Brasil) sobre sua decisão de integrar o ministério de Jair
Bolsonaro.
“Lembrei-me do juiz Falcone, muito melhor do que
eu, que depois dos sucessos em romper a impunidade da Cosa Nostra, decidiu
trocar Palermo por Roma, deixou a toga e assumiu o cargo de Diretor de Assuntos
Penais no Ministério da Justiça, onde fez grande diferença mesmo em pouco
tempo”, escreveu.
Falcone morreu assassinado em 1992 por
Giovanni Brusca, a mando do mafioso Salvatore Riina.
Guerra criticou “o suposto legado de Giovanni
Falcone” reclamado por Sergio Moro.
Alguns trechos*:
A notícia é daquelas de tremer na base. Ontem,
durante uma de minhas muitas andanças pela internet, acabei lendo uma epístola
aos colegas e magistrados brasileiros do novo Superministro da Justiça Sergio
Fernando Moro, o juiz-herói da Lava Jato. (…)
Com base no que Moro se compara a
Giovanni Falcone é, realmente, um mistério. Entre as hipóteses: a) ter sido mal
aconselhado por alguém que conhece a história recente da Itália como eu a
história de Uganda, b) foi traído por uma tradução equivocada do Google
Translator, c) seu ego desmesurado.
Infelizmente para Moro, no
entanto, a comparação faz a água por todos os lados. É certamente verdade que
Falcone perseguiu com sucesso a Cosa Nostra, uma vez que ele, juntamente com
outros componentes do pool anti-máfia de Palermo, instruiu o julgamento da
maior máfia da história. (…)
Mas
Falcone atraiu mais inveja, calúnias e venenos de todos os tipos do que os
reconhecimentos ou celebrações públicos de Moro. (…)
Abandonar
o Judiciário não foi, portanto, uma manobra para irromper na política (…), mas
uma escolha extremamente dolorosa (…)
Um
magistrado não deve ser apenas honesto, mas também parecer honesto. Houve até
quem acusou Falcone, de maneira totalmente infundada, de defender os políticos,
mantendo os documentos sobre os chamados crimes políticos de Palermo encerrados
em gavetas. (…)
Sergio
Moro e sua gestão da Lava Jato, o chamado kit Lava Jato, para usar uma
expressão do advogado Rodrigo Tacla Durán, investigação essencialmente política
iniciada sistema judicial em 2014 pelo juiz de Curitiba ficam a uma distância
abismal do magistrado italiano.
Em suma, o super-ministro Moro,
bem como seus numerosos vassalos, devem ter a graça de deixar em paz Giovanni
Falcone, olhando possivelmente outros modelos de inspiração. Não é tão difícil
quanto parece, basta mover o olhar um pouco mais para o norte, de Palermo a
Milão ou, talvez, na direção de Montenero di Bisaccia.
*Tradução
de Miguel Enriquez
Alfio Bogdan - Físico e Professor - analista em acidente de trânsito.
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