Uma das mentes mais brilhantes da intelectualidade do Brasil que a empresta ao PT, traz para nosso raciocínio esta beleza extraída do brilhante discurso de Pablo Neruda, Uma longa viagem na memória e na poesia.
Sul 21 - Neruda está com Lula.
Tarso Genro | junho 11, 2018
Libertem Lula e deixem o país em paz! A miséria política,
jurídica e moral – para não falar na miséria econômica – na qual o bloco
liberal-rentista jogou o nosso país, terá consequências dramáticas, para as
novas gerações de brasileiros. Ao embarcar na canoa furada do neoliberalismo,
pela qual bastaria reduzir o “tamanho” do estado, cortar os subsídios para o
desenvolvimento, ajustar o orçamento sonegando recursos para
saúde-educação-segurança, privatizar bens públicos e falsificar o combate à
corrupção -ao embarcar nesta canoa – os setores (majoritários) das classes
dominantes brasileiras lideraram um vasto movimento político baseado em
ilusões. E na natureza, onde os mais fortes no mercado sobreviveriam como “espécies”
naturais superiores.
Estas ilusões foram cientificamente manipuladas pelo
oligopólio da mídia e seus especialistas de proveta, até criar a “máxima
ilusão”, que caracterizou as correntes fascistas, em diversas épocas da
História: primeiro, que bastaria tirar a esquerda do Governo (no caso o
PT) para o país andar; segundo, que as soluções são simples; terceiro, que o
“político” e os “políticos”, são desnecessários para redimir a nação dos seus
erros: bastaria instrumentalizar alguns cretinos, colocando-os à frente do
poder e “nós operaremos com técnicos competentes”, para fazer as coisas andar,
no mercado e na vida.
Se
tivessem algum senso limitado de História teriam considerado que – mesmo dentro
de uma democracia capitalista típica – as esquerdas sempre foram necessárias
para, representando partes importantes da sociedade comporem um
sentido de nação, pois ela é o espaço cultural, econômico e territorial, no
qual os projetos democráticos se realizam; teriam concebido, estes grupos
golpistas – ingênuos ou não – que nada é “simples” em política e economia, e
que a visão simplista para o enfrentamento da complexidade social, leva para
desastres complexos e tragédias sociais dramáticas; teriam entendido, estes
“chefes” – escondidos nos escaninhos do oligopólio da mídia e nos armários dos
partidos tradicionais – que a instrumentalização de “cretinos”, para assumirem
postos de governo, já vem comprometida pela própria eliminação do espaço da
política, feita no próprio episódio cretino do golpe.
A necessidade de libertação do Presidente Lula é o que
simboliza, nos dias de hoje, a decadência e a senilidade do Golpe, bem como
representa a possibilidade de – se libertado por uma decisão do Supremo a
qualquer momento - começarmos a encaminhar o retorno à normalidade política do
país, à retomada do contencioso democrático, a elisão da Guerra Civil não
declarada, que já está em andamento no Rio de Janeiro e na periferia de
outras grandes cidades. A radicalização do processo político pela via
autoritária – no contexto atual – só beneficia aqueles que querem fazer do país
um laboratório do fascismo pós-moderno, que transforma o ódio de classe em
política de Estado e a informação, em mercadoria, para a formação de pessoas
que não pensam e espumam ódio – por todos os poros – contra quem não tem as
mesmas opiniões.
No discurso “Uma longa viagem na memória e na poesia” – quando Pablo
Neruda recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1971- o poeta narrou a sua
travessia dos Andes – décadas antes – em fuga como perseguido político. O
brilho costumeiro das suas metáforas, ao narrar travessia de rios caudalosos,
gargantas de montanhas batidas pelo vento gelado, penhascos ameaçadores, chega
a momentos de beleza absoluta, nos quais o poeta flagra quando a “natureza” e o
“humano”, se fundem e se separam, como se fizessem uma antevisão do
futuro.
Assim diz Neruda, no seu mais brilhante parágrafo, daquele
discurso misto de epopeia e poesia:
“A cada lado do rastro contemplei – naquela
desolação selvagem – algo parecido como uma construção humana”. É o que estamos
contemplando nas ruínas do naturalismo de mercado, imposto pelo dogma liberal,
que o golpismo pós-moderno nos fez herdar: uma terrível construção humana, na
qual se confundem a volta pobreza extrema, a submissão completa do Estado e da
Política aos mercados financeiros, a dilapidação criminosa dos nossos recursos
naturais e a ascensão da brutalidade fascista como viabilidade eleitoral.
Libertem Lula e deixem o país em paz!. Caso isso não ocorra,
o Brasil provavelmente terá um Presidente ilegítimo – no próximo período – e o
país poderá mergulhar numa longa noite de agonia, cujos desfechos são
imprevisíveis. E o nosso rastro deixará uma desolação selvagem, como construção
humana, onde só os mais fortes e os mais ricos -os poucos – sufocarão a vida e
voz de milhões. Lula hoje, com seus defeitos, grandezas, brilhos e limites, é o
Brasil aprisionado. Libertem Lula e deixem o país em paz!
(*) Tarso Genro foi
Governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, Ministro
da Justiça, Ministro da Educação e Ministro das Relações Institucionais do
Brasil.
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