No
dia 12 de janeiro de 2012 a Secretaria Estadual da Educação (SEE) publicou no
Diário Oficial a Resolução SE 2 instituindo “mecanismos de apoio escolar aos alunos do ensino fundamental
e médio da rede pública estadual”. O assunto ganhou maior publicidade somente agora, com a
publicação de reportagens em pelo menos dois grandes jornais, noticiando que
não haverá mais classes de “recuperação paralela”.
Entre
as medidas contidas na resolução estão a instituição da “recuperação contínua”,
com atuação de professor auxiliar em classe regular do ensino fundamental e
médio e a recuperação intensiva no ensino fundamental, constituindo classes em
que se desenvolverão atividades de ensino diferenciadas e específicas.
Antes de entrarmos no mérito dessas medidas, precisamos
deixar claro que não concordamos com o método adotada pela SEE para a tomada de
decisões que afetam o processo ensino-aprendizagem, o cotidiano e a vida
profissional dos professores. Uma vez mais as decisões foram tomadas sem
diálogo com os professores e com as entidades representativas da categoria.
A Secretaria da Educação alega que o tema foi discutido nos
chamados “polos”, instituídos em algumas regiões do estado. Entretanto, não diz
que esses polos foram compostos por professores e demais profissionais da
educação escolhidos a dedo pelas diretorias de ensino e pelas direções das
escolas. Desta forma, tais fóruns carecem de legitimidade para falar em nome do
conjunto da nossa categoria.
Entrando no mérito da questão, acredito que a extinção da
recuperação paralela é uma medida intempestiva e equivocada da Secretaria Estadual
da Educação. Creio que se existem falhas e problemas na recuperação paralela,
eles não serão resolvidos com a sua extinção, mas ela deveria ser repensada à
luz de outras medidas necessárias. As constantes mudanças de políticas educacionais,
descontinuando programas em andamento, prejudicam os alunos e comprometem a
qualidade de ensino.
A recuperação deve se dar a partir de um diagnóstico das
dificuldades de aprendizagem dos alunos. Desta forma, é preciso que ele possa recuperar
esses conteúdos, avançando nos estudos e isto deve ser feito de forma paralela,
concomitante, possibilitando-o, de uma forma dinâmica, recuperar o que perdeu e
continuar acompanhando sua turma. Da forma como a SEE está organizando a
recuperação neste momento - dentro da própria sala de aula haverá maiores dificuldades
para alcançar este resultado, podendo até mesmo prejudicar a aprendizagem dos
alunos que estão mais à frente.
Quanto à instituição do professor auxiliar, há vários
problemas envolvidos. O primeiro deles é que é previsível que existirão
descompassos entre o professor titular da disciplina e o professor auxiliar,
pois nem sempre estarão no mesmo timing.
Também está prevista a presença do professor auxiliar nas
salas mais numerosas. Isto é um contradição, pois a existência de salas
numerosas, com 40, 45 ou até 50 alunos é justamente uma das razões da
dificuldade de aprendizagem de muitos alunos. Há anos a APEOESP luta contra a existência
de classes superlotados na rede estadual de ensino e, agora, elas são adotadas
como um dos critérios para a recuperação contínua. Isto é apenas uma forma de
tentar contornar o problema, não de resolvê-lo.
Há outra contradição: a falta de professores é uma das razões
alegadas para não aplicar a composição da jornada de trabalho determinada pela
lei federal 11.738/08 (lei do piso), que destina no mínimo 33% deste tempo para
a preparação de aulas, elaboração e correção de provas e trabalhos, formação
continuada na própria escola e, também, para que o professor dê a devida atenção
a cada um de seus alunos.. Mas, se faltam professores, como prover os
professores auxiliares necessários para a efetivação do programa de recuperação
contínua?
Se faltam professores - e são necessários mais professores
para a aplicação deste programa - por que o governo insiste em aplicar a
chamada “prova dos OFAs” para manter esses professores na condição de
não-efetivos (em vez de realizar concursos públicos), sendo obrigado, depois, a
abrir o cadastro até mesmo para professores que sequer participaram da prova?
Não se faz educação de qualidade sem oferecer aos professores
condições de trabalho e aos alunos condições de ensino-aprendizagem. Neste
momento, falta uma correta organização do tempo de trabalho dos professores.
A composição da jornada de acordo com o determinado pela lei
11.738/08 é um passo muito importante para que o professor tenha condições de
ministrar aulas melhores, para se desenvolver profissionalmente, para adoecer
menos e, também, para desenvolver um bom trabalho de recuperação dos alunos.
Sou sempre a favor de melhorar a Educação e torço para que
medidas que visem um melhor aprendizado dos alunos funcionem. Porém, sem que se
tomem as medidas corretas, podemos estar apenas trocando seis por meia dúzia.
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40% das aulas na rede pública serão digitais
Estado de SP vai investir
R$ 5,5 bi em dez anos para empresa instalar equipamentos, treinar docentes e
criar conteúdos
Presidente do sindicato dos professores diz ver com
preocupação 'invasão' de empresa no conteúdo das aulas
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
O governo de São Paulo decidiu que uma empresa
será a responsável por instalar equipamentos de tecnologia nas escolas, treinar
professores para as atividades e até desenvolver conteúdos digitais para as
aulas.
Segundo as regras anunciadas ontem pela gestão
Geraldo Alckmin (PSDB), 40% das aulas passarão a ser dadas com esses conteúdos.
Haverá, por exemplo, vídeos de cinco minutos
para a explicação de conceitos e jogos para fixação de conteúdo.
O projeto abrange todas as disciplinas dos
colégios estaduais de 5º ao 9º ano dos ensinos fundamental e médio.
O investimento previsto pelo governo é de R$ 5,5
bilhões, em dez anos. O valor é cinco vezes maior do que o reservado para este
ano para reformas nas escolas.
A empresa ainda será escolhida. Segundo a
Secretaria da Educação, o governo vai analisar critérios técnicos.
A pasta prevê que em 2013 comece a instalação de
lousas digitais (sensíveis ao toque e conectadas à internet). Depois, serão
distribuídos "dispositivos móveis" (como notebooks ou tablets).
Com a utilização de conteúdos digitais, hoje
escassos na rede, o governo visa melhorar seu ensino -que apresentou pouca
melhora no ensino fundamental e recuo no ensino médio, segundo o Idesp
(avaliação do Estado).
Os conteúdos deverão seguir o currículo da rede,
disse a Secretaria da Educação.
Pesquisas nacionais e internacionais que
abordaram o uso de tecnologia na educação não detectaram melhora no rendimento
dos alunos.
Uma das hipóteses é a de que o conteúdo e a
formação dos professores eram inadequados -por isso, o aluno se distraía com a
tecnologia.
De acordo com o governo, o projeto vai melhorar
o interesse dos alunos e a qualidade das aulas.
A decisão ocorre em meio a uma crise. Nos
últimos meses, o governo chegou a chamar até docentes reprovados no teste de
admissão.
Presidente da Apeoesp (sindicato docente), Maria
Izabel Noronha diz ser favorável à incorporação da tecnologia nas escolas.
Porém, ela critica o fato de uma empresa ser
responsáveis pelos conteúdos. "É uma invasão", disse.
A presidente do sindicato também crítica a
política do governo. "Não tem recursos para nossa valorização, mas tem
para essa parceria privada? Parece até que querem cobrir a falta de professores
com esses conteúdos."
A Secretaria da Educação diz que terá de aprovar
os conteúdos e que já há política de valorização aos docentes.
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