quarta-feira, 21 de outubro de 2020
dan2010: Meu pé de abieiro
Meu pé de abieiro
Meu pé de abieiro.
Minha Bahia é
pródiga em seres geniais. Cumpre ressaltar que sou avesso ao uso de tal
adjetivo. Uso irracional, é claro. Hoje qualquer Robinho da vida é, ou foi
chamado de gênio. Gênio do futebol (do futebol!) só conheci um, Ele, como dizia
Mario Morais e não tantos imbecis, exploradores do “esporte bretão”
(Arrrggghhh!!!). Os demais são japoneses, também de Mario Morais. Geniais são
aqueles que superam, e muito, os demais, em sua área de atuação. Assim foram
geniais Camões em literatura, Bach em música e, por que não Jorge Amado, baiano
arretado em Literatura! Ele e seus palavrões “geniais”! D. Sinhá, minha mãe,
adorava um palavrão! Eu filho de quem sou, também “me amarro” em palavrões.
Quando crianças, nós quatro éramos proibidos de falar “bobagens”. Merda, para
nós era “aquela bobice”! E se um “dedava” o que a pronunciasse, este levava um
beliscão por falar e o outro, também, pela denúncia, com um “e, tu também!” Mas
essa “autoridade” foi sendo amansada com o tempo. Tininha, muito astuta disse
após um beliscão: ”por que vocês podem e se divertem falando
palavrões nas reuniões noturnas e nós, não?” Quando D. Sinhá perdia o rebolado apelava, sempre, para um: “vá perguntar pro seu pai!” Essa artimanha funcionou por muito tempo. Qualquer dia conto direito
como se passou! Mas falava de Jorge Amado...! Li “Tieta do Agreste” há mais de
quarenta anos! PQP! Nunca mais me esqueci de uma frase: Um circunstante ao
vê-la passar exclama, filosoficamente, “Que belo pé de buceteira”! Perceberam o português castiço? Fora um
“polista” o circunstante não usaria o sufixo eira! Paulista diz um pé de café,
não um pé de cafeeiro como o baiano. Um pé, significa uma unidade, uma planta,
não um fruto! Por isso mesmo o título: Meu pé de abieiro! Entendam, o
brasileiro do “Sul Maravilha” (Que viva Henfil!!), não pode ser considerado
errado, visto que a
planta que produz uma fruta pode, também, ser conhecida pelo nome do que produz. Algodão, fruto do algodoeiro também pode designar
a planta que o produz. Veja, querido leitor quanta poesia pode advir de uma
frase genial: Que
belo pé de...! Ainda vou escrever sobre palavras
sonoras! Meu pé de abieiro tem cerca de seis ou sete anos. Só produziu ramos e
folhas. Em abundância! Um dia sim, um dia não irrigo o quintal. Hoje,
observando de perto o abieiro vi que está “abotoando”! Logo serão flores e
frutos! Isso é muito prazeroso!
De Porto Seguro,
BA, em 20/10/2020. Jairo Teixeira Mendes Abrahão Professor Titular da
ESALQ-USP.
Alfio Bogdan - Físico e Professor - análises periciais.
terça-feira, 13 de outubro de 2020
repúdio à manifestação de Mourão exaltando Ustra
Por COMISSÃO ARNS
Nota pública em repúdio à manifestação de Mourão exaltando Ustra
Em nota pública, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns manifesta seu mais veemente repúdio à declaração do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em entrevista para a rede alemã Deutsche Welle, de que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra foi “um homem de honra, que respeitou os direitos humanos dos seus subordinados”. As palavras do vice-presidente, que é um general reformado do Exército, não apenas desonram as Forças Armadas, como agridem a dignidade dos que padeceram nas mãos desse torturador já condenado pela Justiça.
Não é de hoje que autoridades do atual governo exaltam a figura macabra do ex-chefe do DOI-Codi do 2º Exército, em São Paulo, de cujos porões emergiram inesquecíveis relatos de terror e sadismo contra cidadãos brasileiros. Para se ter ideia da barbárie autorizada como política da Estado, entre 1970 e 1974, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, liderada por Dom Paulo Evaristo Arns, patrono da Comissão Arns, reuniu mais de 500 denúncias de tortura no DOI-Codi comandado por Ustra.
Passaram-se mais de 30 anos para que, finalmente em 2008, Ustra fosse reconhecido como autor de sequestro e tortura, em ação declaratória movida pela família Telles, cujos membros puderam sobreviver para testemunhar as crueldades perpetradas por esse militar e seus “subordinados”, nos porões da ditadura.
Hoje e sempre, serão inaceitáveis homenagens a esse violador da Carta Constitucional de 1967/9, do Código Penal Militar de 1969 e das Convenções de Genebra de 1949, como documentado no Relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Ao proferir tais elogios, Hamilton Mourão conspurca, de saída, a honra dos militares brasileiros. Ao fazê-lo na condição de vice-presidente, constrange a Nação e desrespeita a memória dos que tombaram sob Ustra. E, ao insistir em reverenciar o carrasco, fere mais uma vez o decoro do cargo em que foi investido sob juramento de respeitar a Constituição. É ela que nos ensina: “Tortura é crime inafiançável, insuscetível de graça ou anistia”.
São Paulo, outubro de 2020
Margarida Genevois, presidente de honra da Comissão Arns
José Carlos Dias, presidente da Comissão Arns, ex-coordenador da Comissão Nacional da Verdade
Paulo Sérgio Pinheiro, ex-presidente e membro da Comissão Arns, ex-coordenador da Comissão Nacional da Verdade
Ailton Krenak, líder indígena e ambientalista
André Singer, cientista político e jornalista
Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, advogado, ex–presidente da OAB-SP
Belisário dos Santos Jr., advogado, membro da Comissão Internacional de Juristas
Cláudia Costin, professora universitária, ex-ministra da Administração
Dalmo de Abreu Dalari, advogado, professor emérito e ex-diretor da Faculdade de Direito da USP
Fábio Konder Comparato, advogado, doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra, professor emérito da Faculdade de Direito da USP
José Gregori, advogado, ex-ministro da Justiça
José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares
Laura Greenhalgh, jornalista
Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista, ex-ministro da Fazenda, da Administração e da Reforma do Estado
Luiz Felipe de Alencastro, historiador, professor da Escola de Economia da FGV-SP e professor emérito da Sorbonne Université
Manuela Ligeti Carneiro da Cunha, professora da USP e da Universidade de Chicago, ex-presidente da Ass. Bras. De Antropologia
Maria Hermínia Tavares de Almeida, cientista política, professora titular da Universidade de São Paulo
Maria Victoria Benevides, socióloga e cientista política, professora titular da Faculdade de Educação da USP
Oscar Vilhena Vieira, jurista, professor da Faculdade de Direito da FGV-SP
Paulo Vannuchi, jornalista, cientista político, ex-ministro de Direitos Humanos
Sueli Carneiro, filósofa, feminista, ativista antirracista e diretora do Geledés
Vladimir Safatle, filósofo, professor do Departamento de Filosofia da USP