Confira a matéria da Istoé na íntegra:
Arquivo Alstom
Chegam ao Brasil documentos da
Suíça sobre o esquema de corrupção que originou o escândalo do Metrô paulista.
São provas de que políticos do PSDB receberam propina da multinacional francesa
em troca de contratos na área de energia
Pedro Marcondes de Moura
O PSDB paulista começará 2014 da
mesma forma que terminou 2013: enrolado em um escândalo de corrupção. De acordo
com promotores e procuradores ouvidos por ISTOÉ, em fevereiro está prevista a
chegada ao Brasil de uma leva de documentos até então em posse de autoridades
suíças. Eles comprovam, segundo os investigadores, o pagamento de propina pela
multinacional francesa Alstom para obtenção de contratos com estatais da área
de energia. A papelada inclui registros bancários e movimentações financeiras
feitas no país europeu por suspeitos de se beneficiarem do esquema, como Robson
Marinho, chefe da Casa Civil durante o governo Covas, e Jorge Fagali Neto,
ex-diretor dos Correios do governo Fernando Henrique Cardoso. Até agora, dez
pessoas foram indiciadas pela Polícia Federal. Entre elas está o tucano Andrea
Matarazzo, secretário estadual de José Serra e Mário Covas. O Ministério
Público paulista e o Ministério Público Federal esperam a nova leva de
documentos há três anos. Em agosto, quando estavam em vias de ser enviados,
Robson Marinho e Fagali Neto ingressaram na Justiça suíça para impedir que as
informações sobre suas contas chegassem às mãos dos responsáveis por investigar
o caso no Brasil. Recentemente, no entanto, o pedido foi negado. Agora só falta
a autorização do juiz do Tribunal Penal de Bellinzona, na Suíça, para que os
papéis desembarquem no País.
Marinho foi alçado por Covas ao
cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP). No exercício da
função, teria julgado regulares contratos da Alstom em troca de suborno. Além
de viajar com despesas pagas, Marinho recebeu, de acordo com promotores, US$ 1
milhão em propina em uma conta na Suíça, bloqueada pela Justiça. Seu patrimônio
é extenso – inclui até uma ilha em Paraty, no Rio de Janeiro. Em uma leva de
documentos já enviada, as suas iniciais (RM) aparecem em um memorando da Alstom
que identifica os beneficiários da propina. Os indícios de seu envolvimento
chamam a atenção. Em um trecho do documento em francês, RM aparece como
"ex secretaire du governeur" ou ex-secretário do governador. Já outro
diz que o dinheiro é destinado ao "le tribunal de comptes", Tribunal
de Contas.
O desembarque dos documentos deve
complicar também a situação de Jorge Fagali Neto. Ex-secretário de Transportes
e diretor dos Correios na gestão FHC, ele é acusado de usar o seu trânsito no
tucanato para favorecer a Alstom. Para tanto, recebeu da empresa cerca de 7,5
milhões de euros, no banco Safdié, na Suíça. O dinheiro, que está bloqueado,
veio de outra conta no país: a Marília, aberta sob o número 18.626 no Multi
Commercial Bank, atual Leumi Private Bank. Como ISTOÉ mostrou, ela foi usada
para abastecer o esquema. Pelo envolvimento com a máfia do setor elétrico,
Fagali foi indiciado pela Polícia Federal por corrupção passiva, entre outros
crimes. As informações suíças devem dar mais subsídios às acusações. Irmão do
ex-presidente do Metrô na gestão Serra, Fagali é alvo de suspeitas de ter
operado também na área de transporte sobre trilhos com a Alstom e também com a
multinacional Siemens. E-mails entregues por uma ex-secretária dele ao MP
mostram sua proximidade com lobistas, servidores paulistas, políticos e
empresas envolvidas no esquema disseminado nas sucessivas gestões do PSDB.
Alfio Bogdan
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