WADIH DAMOUS // 23 de
junho de 2014
O que houve com Dilma
ultrapassou em muito uma vaia. Foi falta de educação e grosseria. A vaia
poderia até ser interpretada como manifestação política - mas xingamentos e
palavrões não se justificam
Vaias a políticos não
são novidade em estádios no Brasil. E são compreensíveis. Têm a sua razão de
ser. A plateia está lá para assistir aos jogos e reage mal se sente que alguém
quer pegar carona no evento esportivo. Sente cheiro de oportunismo político,
muitas vezes, com razão.
Mas nem um ferrenho
adversário poderia dizer que a presidente Dilma Rousseff estava no jogo de
abertura da Copa do Mundo para buscar dividendos políticos. Como presidente da
República, cumpria um papel institucional, da mesma forma como fizeram governantes
de outros países que sediaram a competição.
Além disso, o que
houve com Dilma ultrapassou em muito uma vaia. Foi falta de educação e
grosseria. A vaia poderia até ser interpretada como manifestação política - mas
xingamentos e palavrões não se justificam.
É interessante que os
protagonistas de tal gesto foram pessoas de bom poder aquisitivo, que tiveram
condições para pagar ingressos vendidos a um preço proibitivo para a maioria da
população. Aliás, é sintomático que não se visse um só negro na plateia. Se faltasse
mais alguma demonstração, o episódio demonstra, mais uma vez, que dinheiro não
anda necessariamente ao lado de educação e civilidade.
Felizmente foi
generalizado o repúdio à agressão sofrida por Dilma. Não houve quem, na mídia,
aprovasse aquela agressão. Mesmo jornalistas de oposição ao governo condenaram
a grosseria.
Só uma voz destoou. A
do candidato tucano ao Planalto, Aécio Neves. Certamente o preferido dos que
ofenderam a presidente. Num primeiro momento, Aécio justificou o comportamento
deselegante. "Dilma está colhendo o que plantou", afirmou, sem explicar
muito bem o sentido de suas palavras.
Posteriormente, ao
perceber o repúdio geral à agressão, o candidato do PSDB mudou o discurso e
condenou, ainda que com ressalvas, os xingamentos à presidente.
Melhor assim. Antes
tarde do que nunca.
Que o episódio fique
como aprendizado.
A luta política,
muitas vezes, é exacerbada. Eventualmente chega a perder a civilidade. Mas é
preciso cuidado: quando começam ofensas e grosserias, as questões de fundo, os
temas substantivos da política – que deveriam estar à frente do debate - se
perdem e são esquecidos.
Insulto e xingamento
impedem um mínimo de diálogo, necessário até mesmo entre adversários.
E quem perde é a
democracia.
Quem preza por ela
deve ter sempre isso em mente.
Que fique a lição
para os mal-educados do Itaquerão e para o candidato da preferência deles.
Alfio Bogdan
Nenhum comentário:
Postar um comentário