segunda-feira, 9 de junho de 2014

Há um conluio em andamento contra Dilma

<◄►>Quando a taxa de juros chegou num patamar que todos, inclusive a Fiesp, saudaram como uma taxa civilizada, juros reais de 2%, todo mundo começou a aumentar preço. Porque o empresariado no Brasil deixou de investir quando a taxa de juros ficou muito baixa, ao contrário do que acontece no mundo inteiro. No mundo inteiro, quando a taxa de juros está muito alta, os empresários não investem. No Brasil é o contrário: os empresários investem com taxa de juros alta, porque ela reduz o risco do investimento. Por incrível que pareça! Quem financia o investimento no Brasil é o BNDES, o investimento é com juros subsidiados. Com taxa de juros alta, os empresários podem ganhar no mercado financeiro. O que ajuda a segurar preço não é o fato de que a demanda é contida pelos juros altos. Porque os empresários compensam os preços das mercadorias ganhando no mercado financeiro. Não é preciso aumentar preço: eles estão ganhando em outro lugar. Quando a taxa de juros cai, a primeira atitude do empresário que começa a perder dinheiro no mercado financeiro é aumentar preço. A economia é oligopolizada. Em todos os setores importantes, três ou cinco empresas ou grupos têm mais de 50% do mercado. Como essa profunda oligopolização, os grandes grupos têm o poder de arbitrar preços. Dilma foi punida fazendo o que todo mundo pediu: redução consistente de taxa de juros e aumento consistente do câmbio, desvalorização do real. Quando o câmbio bateu em R$ 2,4 e os juros em 7,5% todo mundo reagiu contra. Há agentes econômicos com grande poder de veto a medidas que representam, do ponto de vista dos rentistas, perda de renda. Esses agentes não permitiram dólar alto e juro baixo.

<◄►>Existe um conluio antidistributivo no Brasil. Reúne as classes médias, que querem juro alto para garantir sua aposentadoria, sua viagem internacional, para garantir dólar baixo. Interessa a essa classe media e parte dela está contra o governo, é conservadora. Vai votar contra, apesar de ter ganhado muito com a taxa de juros. Essa classe média é antidistributiva, é contra as políticas do tipo Bolsa Família, de melhoria da vida dos mais pobres. A indústria reclama da taxa de juros, mas, quando a taxa de juros cai, responde com aumento de preços. O resultado é aumento de preços, não investimento. Aí é o aumento da taxa de juros para conter a inflação. O BC não tem outra saída a não ser aumentar os juros. O setor de serviços é o maior responsável pelos aumentos de preços. São três agentes muitos poderosos: tem consumidores, uma certa fatia de rentistas que é grande, de 25% a 30%, que ganha com as taxas de juros dos fundos públicos; têm a indústria e o setor de serviços. Quando se aumenta a taxa de juros, se transfere diretamente recursos do Tesouro nacional para esses agentes. A taxa de juros é fruto de uma luta política entre agentes econômicos para o aceso dos fundos públicos no Brasil. O governo percebeu a sinuca de bico em que estamos metidos decorrente de muitos anos de taxas de juros muito altas e inflação baixa –para os padrões brasileiros.
Como esse conluio pode ser enfrentado?
<◄►>A indústria brasileira foi muito fragilizada. A China ficou 20 anos com o câmbio muito desvalorizado e todo mundo foi para lá. Antes tinha sido o Brasil, o México. Isso não tem mais volta, é uma configuração da economia mundial. O Brasil perdeu, mantendo muito valorizada sua moeda nesse período. O processo é de longo prazo. A China levou 30 anos para chegar onde está. O Brasil tomou outro caminho e não se reverte uma política assim em pouco tempo. A política de redução de juros e desvalorização do câmbio durou um ano e meio com Dilma, e ela foi punida pelos agentes que são contra essa guinada. Isso não quer dizer que essa guinada não possa ser dada. Ela provou do custo de dar essa guinada. Poderia ter tentado bancar isso politicamente.

<◄►>Parte do PMDB também é rentista, parte da base do governo também é rentista. A única pessoa que conseguiu uma maioria estável no Congresso foi FHC, no primeiro mandato. Foi um rolo compressor. No segundo mandato, não foi possível. Houve uma coalizão forte nos dois primeiros anos de lula. Depois do mensalão, acabou. Lula ficou mais dependente do PMDB. Dilma continua com uma base muito fragmentada, sem unanimidade no PMDB e inclusive no PT. Numa situação de grande fragmentação, todo o presidente eleito vai depender do PMDB, que vai continuar sendo o fiel da balança no Congresso. Os presidentes vão continuar reféns de uma forma de fazer política que é a do toma-lá-dá-cá.


Essas pessoas [do conluio] não tão preocupadas com crescimento. A crítica ao baixo crescimento é resultado da crítica em geral à política econômica. Mas não há recessão. A Europa é que está parada desde 2009. O que impede o crescimento é a taxa de investimento. É uma reação dos empresários à percepção sobre o cenário econômico.

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