<◄►>Quando a taxa de juros chegou num patamar que todos, inclusive
a Fiesp, saudaram como uma taxa civilizada, juros reais de 2%, todo mundo
começou a aumentar preço. Porque o empresariado no Brasil deixou de investir
quando a taxa de juros ficou muito baixa, ao contrário do que acontece no mundo
inteiro. No mundo inteiro, quando a taxa de juros está muito alta, os
empresários não investem. No Brasil é o contrário: os empresários investem com
taxa de juros alta, porque ela reduz o risco do investimento. Por incrível que
pareça! Quem financia o investimento no Brasil é o BNDES, o investimento é com
juros subsidiados. Com taxa de juros alta, os empresários podem ganhar no
mercado financeiro. O que ajuda a segurar preço não é o fato de que a demanda é
contida pelos juros altos. Porque os empresários compensam os preços das mercadorias
ganhando no mercado financeiro. Não é preciso aumentar preço: eles estão
ganhando em outro lugar. Quando a taxa de juros cai, a primeira atitude do
empresário que começa a perder dinheiro no mercado financeiro é aumentar preço.
A economia é oligopolizada. Em todos os setores importantes, três ou cinco empresas
ou grupos têm mais de 50% do mercado. Como essa profunda oligopolização, os
grandes grupos têm o poder de arbitrar preços. Dilma foi punida fazendo o que
todo mundo pediu: redução consistente de taxa de juros e aumento consistente do
câmbio, desvalorização do real. Quando o câmbio bateu em R$ 2,4 e os juros em
7,5% todo mundo reagiu contra. Há agentes econômicos com grande poder de veto a
medidas que representam, do ponto de vista dos rentistas, perda de renda. Esses
agentes não permitiram dólar alto e juro baixo.
<◄►>Existe um
conluio antidistributivo no Brasil. Reúne as classes médias, que querem juro
alto para garantir sua aposentadoria, sua viagem internacional, para garantir
dólar baixo. Interessa a essa classe media e parte dela está contra o governo,
é conservadora. Vai votar contra, apesar de ter ganhado muito com a taxa de juros.
Essa classe média é antidistributiva, é contra as políticas do tipo Bolsa
Família, de melhoria da vida dos mais pobres. A indústria reclama da taxa de
juros, mas, quando a taxa de juros cai, responde com aumento de preços. O
resultado é aumento de preços, não investimento. Aí é o aumento da taxa de
juros para conter a inflação. O BC não tem outra saída a não ser aumentar os
juros. O setor de serviços é o maior responsável pelos aumentos de preços. São
três agentes muitos poderosos: tem consumidores, uma certa fatia de rentistas
que é grande, de 25% a 30%, que ganha com as taxas de juros dos fundos
públicos; têm a indústria e o setor de serviços. Quando se aumenta a taxa de
juros, se transfere diretamente recursos do Tesouro nacional para esses
agentes. A taxa de juros é fruto de uma luta política entre agentes econômicos
para o aceso dos fundos públicos no Brasil. O governo percebeu a sinuca de bico
em que estamos metidos decorrente de muitos anos de taxas de juros muito altas
e inflação baixa –para os padrões brasileiros.
Como esse conluio pode ser enfrentado?
<◄►>A indústria
brasileira foi muito fragilizada. A China ficou 20 anos com o câmbio muito
desvalorizado e todo mundo foi para lá. Antes tinha sido o Brasil, o México.
Isso não tem mais volta, é uma configuração da economia mundial. O Brasil
perdeu, mantendo muito valorizada sua moeda nesse período. O processo é de
longo prazo. A China levou 30 anos para chegar onde está. O Brasil tomou outro
caminho e não se reverte uma política assim em pouco tempo. A política de
redução de juros e desvalorização do câmbio durou um ano e meio com Dilma, e
ela foi punida pelos agentes que são contra essa guinada. Isso não quer dizer
que essa guinada não possa ser dada. Ela provou do custo de dar essa guinada.
Poderia ter tentado bancar isso politicamente.
<◄►>Parte do
PMDB também é rentista, parte da base do governo também é rentista. A única
pessoa que conseguiu uma maioria estável no Congresso foi FHC, no primeiro
mandato. Foi um rolo compressor. No segundo mandato, não foi possível. Houve
uma coalizão forte nos dois primeiros anos de lula. Depois do mensalão, acabou.
Lula ficou mais dependente do PMDB. Dilma continua com uma base muito
fragmentada, sem unanimidade no PMDB e inclusive no PT. Numa situação de grande
fragmentação, todo o presidente eleito vai depender do PMDB, que vai continuar
sendo o fiel da balança no Congresso. Os presidentes vão continuar reféns de
uma forma de fazer política que é a do toma-lá-dá-cá.
Essas pessoas [do conluio] não tão preocupadas com crescimento. A crítica ao baixo crescimento é resultado da crítica em geral à política econômica. Mas não há recessão. A Europa é que está parada desde 2009. O que impede o crescimento é a taxa de investimento. É uma reação dos empresários à percepção sobre o cenário econômico.
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