Prof. Dr. Martinho Condini
Atualmente temos uma significativa ausência de lideranças em nosso
país. Quem são as nossas lideranças, hoje? Quem são os modelos para os nossos
jovens? Como eu, acredito que você também tenha dificuldades para responder a essas
perguntas. Há ausência de lideranças no atual momento histórico brasileiro me
levou à lembrança e saudades de dois protagonistas da nossa história recente.
Ambos nordestinos, um cearense e um pernambucano, contemporâneos
do século passado, sempre tiveram os pobres, pequeninos ou oprimidos, os
elementos geradores da construção dos seus pensamentos e práticas ao longo do
século XX.
Após a infância e a adolescência, ambos tiveram rumos
profissionais diferentes: um tornou-se religioso, o outro, após a formação em
Direito, enveredou para a área educacional como professor de língua portuguesa
e, posteriormente, tornou-se também um educador.
No início do Governo Militar, ambos viviam na cidade de Recife. Um
recém-chegado, transferido da cidade do Rio de Janeiro o outro vivia em sua
cidade natal.
Em 1964, um deles foi preso e exilado, retornando ao Brasil apenas
em 1980. No exílio, produziu todo o arcabouço daquilo que mais tarde veio a ser
considerado uma filosofia e um método educacional. E somado a uma experiência
de alfabetização de adultos, produziu uma obra que norteou o seu trabalho como
educador, a Pedagogia do oprimido, escrita no exílio.
O outro, arcebispo de Olinda e Recife, idealizador e fundador da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil, tornou-se uma liderança da Igreja católica,
permaneceu no Brasil durante todo o governo militar, mas sofreu intensa
perseguição e censura dos militares e da ala conservadora da igreja, sendo
impedido por quatro vezes de receber o prêmio Nobel da Paz e foi calado por
quase uma década.
As perseguições a ambos fizeram com que suas vozes e ideias
ecoassem Brasil a fora, e os mesmos ficassem conhecidos mundialmente.
É inegável que ambos tiveram intensa influência na formação do
pensamento educacional e social brasileiro. Realizaram trabalhos que
contribuíram no meio intelectual, como também nas camadas populares da
sociedade.
Eles sempre tiveram a coragem de enfrentar desafios e propor
mudanças para a melhoria das condições de vida das camadas sociais excluídas e
descriminadas do nosso país. A defesa e o cumprimento aos direitos humanos foi
uma bandeira carregada diuturnamente, por esses dois incansáveis humanistas. E
reconheceram na educação um dos principais elementos para as pessoas realizarem
as transformações sociais e a conquista da tão sonhada libertação.
Enfim, apesar da distância física de ambos, sempre estiveram
juntos na esperança de que era possível construir uma sociedade mais justa,
digna e fraterna para todos.
Caros Dom Helder Camara e Paulo Freire, vocês estarão sempre em minha
lembrança.
Postado por Alfio Bogdan - Físico e Professor.
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