quarta-feira, 19 de junho de 2019

Dos BENZODIAZEPÍNICOS

QUEM TEM MEDO DOS BENZODIAZEPÍNICOS?
Elko Perissinotti
(republicando, após "catanduva não esquece" - 2014)
Nota ao fabricante: O psicofármaco Rivotril (clonazepam) foi citado apenas por ser o campeão absoluto de vendas em todo o País. Poderíamos ter citado os concorrentes, como o Frontal (alprazolam), o Lexotan (bromazepam), o Valium (diazepam), o Lorax (lorazepam), o Dormonid (midazolam), dentre inúmeras outras marcas. Ansiolíticos da família dos benzodiazepínicos surgiram no final da década dos anos 50 (clordiazepóxido e diazepam) com o intuito de amenizar, de modo eficaz, nossa angústia/ansiedade/”nervosismo” e, de certo modo, todos os males envolvidos em indagações existenciais/vivenciais. Portanto, todo tipo de desconforto e sofrimento. Num primeiro momento, a promessa paradisíaca parecia se confirmar, a todo vapor! A “felicidade” campeava à solta entre buracos abismais. Luto em família, brigas de casais, perda de emprego, ira, revolta, indignação; tudo era facilmente solucionado com os calmantes! As psicoterapias muito raramente eram indicadas; somente o eram quando os calmantes não funcionavam (mas sempre havia a possibilidade de se tentar uma dose maior). Hoje, sabemos que podem ser extremamente úteis, se usados por curto período (máximo de três semanas), com muita cautela, enquanto aguardamos a ação de outros tipos de medicamentos de longo prazo e da psicoterapia. Sabemos, também, o quanto podem ser nocivos em termos pessoais, familiares e sociais. O uso contínuo desses medicamentos (meses, anos ou décadas), além de desenvolver um grau de dependência muito pior que inúmeras drogas ilícitas, transforma-nos em pessoas afetivamente embotadas, ainda mais egoístas, com grave comprometimento ético-social, com impossibilidade do desenvolvimento da resiliência, da empatia, da ampla capacidade de indignar-se e, sobretudo, de agir. Tornamo-nos astênicos e neurastênicos, superficiais na visão crítica de nossa realidade pessoal, circunstancial, social e política. Passamos a banalizar as ocorrências socioculturais, tendemos a entregar tudo nas mãos do Salvador, por “preguiça farmacológica” (nenhuma crítica aos verdadeiros religiosos) e, enfim, nos abstemos de participar da Vida, sentados meio sonolentos em nossos sofás e assistindo ao que há de pior no mundo televisivo. É um momento em que pensar, cansa! Os aspectos conativos (intencionalidade em execução) ficam quase inertes, e o declínio cognitivo inicia uma ascendência avassaladora (profissionais não especializados chegam a desconfiar de “princípio de Alzheimer”). Eis, assim, a explicação do insuportável sofrimento humano, desse “mal-estar da civilização”, desse vazio que, neuroticamente (ou delirantemente?), tresloucada e inutilmente, vamos nos obrigando a obturar. A isso, nunca poderemos denominar “cura”, somente perpetuação de um mal-estar não sabido.
Alfio Bogdan - Físico e Professor - analista em acidente de trânsito

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