terça-feira, 19 de novembro de 2019

NÃO ACREDITO EM GOLPE (Renato Janine Ribeiro))

(por Renato Janine)
Alguns analistas supõem, vendo lógica nas ações de Bolsonaro, que ele pretenda dar um golpe de estado, o que obviamente exige apoio das Forças Armadas. Eu discordo, em nome da honra militar.
Preciso explicar o que ela é. “Honra” é a apreciação externa do valor de uma pessoa. Não se confunde com seu valor intrínseco, por vezes imperceptível ou mesmo invisível. Não é o mesmo que honestidade ou boa intenção. Honra é sempre o que vemos de outro.
A profissão militar segue a honra no seguinte: ela se dispõe a colocar a própria vida em risco em nome de um valor maior. Esse valor geralmente é a defesa da Pátria. (No passado, já foi mais egocêntrico: podia ser o revide a uma ofensa até de um amigo – era o que levava a duelos, muitas vezes entre oficiais do mesmo exército. Isso acabou.)
Deixando claro: enquanto quase todos nós valorizamos a vida mais que tudo, o militar escolhe uma profissão na qual ele pode perder a vida em nome de um valor mais alto, que é a defesa da Pátria. Essa priorização da honra cobre a carreira por inteiro, repercutindo por exemplo no respeito à hierarquia, no valor dado às condecorações etc.
Ora, o que tem feito Bolsonaro senão depreciar, constantemente, os generais que trabalham com ele? Quantos deles, inclusive ministros, ele já não demitiu de modo sumário e por vezes até humilhante?
Não houve resposta, porque outra característica da Força Armada é a obediência, no caso, ao comandante em chefe. Mas pode-se imaginar que, depois de meia dúzia de oficiais generais serem humilhados, os seus colegas estarão alegres e dispostos a apoiar uma quartelada presidencial?
Tenho minhas dúvidas.
As quais aumentam depois do ataque, estes dias, do ministro da Educação ao marechal Deodoro da Fonseca, chamado de traidor da Pátria, porque violou a lealdade que deveria ao Imperador Pedro II. Ataque, por sinal, que levou o jornal O Estado de S. Paulo a pedir que o ministro seja demitido.
É bom lembrar que Deodoro, no movimento que resultou na proclamação da República, gastou mais tempo batendo boca com o primeiro-ministro Afonso Celso a respeito das, reais ou supostas, humilhações infligidas ao Exército do que falando em monarquia, república e imperador.
Ou seja, Deodoro acabou proclamando a República mais em defesa da honra militar do que das virtudes republicanas.
Parece que os militares esqueceram a qualificação dada pelo ex-ditador Geisel a Bolsonaro (“um mau militar”) e as próprias circunstâncias de sua exclusão do exército (expulso num julgamento em primeira instância, depois revertido em seu favor no Superior Tribunal Militar), uma vez que depois de prematuramente reformado Bolsonaro se tornou um líder sindical da Força. OK. Mas não é ofendendo oficiais generais, ainda que já inativos, que Bolsonaro vai conseguir apoio para um golpe.
Assim, me parece que, salvo conturbação interna pronunciada (e aí sim Bolsonaro pode construir esse pretexto), dificilmente elas vão apoiá-lo numa aventura dessas.
Alfio Bogdan - Físico e Professor 
Artigo levado a público no FB por Luis Costa Pinto 

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