Aberta a temporada de caça ao PT
A propaganda eleitoral está liberada desde o dia
7 de julho. Para a fatia majoritária da população, a campanha municipal de 2012
começa agora. Para os partidos e lideranças, a caminhada vem de antes, desde as
refregas na escolha dos candidatos, passando pelas disputas e as sinalizações
das alianças, à luta pelo tempo no horário eleitoral gratuito a TV. Nenhuma das
decisões se esgota em si mesma. A lógica do poder é espiralada, para acima e
para baixo.
Uma vitória catalisa as forças do passo seguinte; a derrota aleija
e descredencia. O dispositivo midiático conservador arma-se com a faca nos
dentes. Sem tempo de TV para afrontar o tsunami do jornalismo isento, nada
feito.
O poder midiático acaba de reafirmar seu peso nas eleições presidenciais
mexicanas, constituindo-se em fator decisivo à volta do PRI ao poder. A ação da
Televisa --a Globo local- contra López Obrador foi tão inescrupulosa que gerou
a maior surpresa do processo eleitoral: o movimento YoSoy132, uma iniciativa
estudantil que combinou a força da rede e a da rua, afrontou o poder da
Televisa ao criar canais alternativos de debate.
A disputa pela prefeitura de São Paulo, um dos quatro maiores orçamentos do
país, decide o futuro político de José Serra e o de sua ala no PSDB, minguante
inclusive em São Paulo: se vencer, o tucano ganha músculos para uma nova
tentativa de chegar à Presidência em 2014. Depois de duas derrotas
presidenciais para o PT, se perder no próprio ninho, o ex-governador deslizará
para uma aposentadoria humilhante, com provável dissolução de sua influencia
partidária na própria cidade que pretende usar como trampolim eleitoral pela
segunda vez.
Não são poucos os tucanos que torcem por esse fracasso.
A votação de Serra na
convenção partidária em março foi o sinal eloquente de uma liderança cada vez
mais afeita a dividir do que a somar: esperava-se uma consagração com 80% dos
votos; o esquálida apoio de 52% dos delegados soou mais como um aviso prévio do
que um cheque em branco; o perfil arestoso e desgastado do político cuja
principal vitrine é o elitismo e a cizânia não encontra mais braços dispostos a
carregá-lo com entusiasmo. É um flanco de partida oneroso.
Para o PT a eleição de São Paulo empilha travessias e simbolismos igualmente
desafiadores. O partido decidiu cravar aqui um alicerce de renovação audacioso
ao optar pelo lançamento de Fernando Haddad, em detrimento de Marta Suplicy.
O
novo ciclo foi bancado por Lula que fará de São Paulo a moldura de sua volta à
política da rua, dispondo-se a jogar nela o cacife de maior cabo eleitoral de
hoje e de 2014. Os números evidenciam o peso que o escrutínio paulista assume
na vida dos partidos e da política nacional: a campanha de Serra prevê gastos
de até R$ 98 milhões; a de Haddad, R$ 90 milhões. Ambos praticamente se
equiparam no tempo do horário eleitoral gratuito: 7mi 46 e 7 mi 34,
respectivamente.
Fator decisivo na campanha de um candidato desconhecido, a luta pelos segundos
da propaganda gratuita descarregou nos ombros do PT seu ônus de largada: o
partido terá que explicar ao eleitor de classe média, justamente o alvo da
estratégia de renovação, a aliança com Paulo Maluf [referência de tudo aquilo
contra o qual se bateu desde a fundação].
O pragmatismo será melhor tolerado se
Haddad firmar-se no imaginário da população como o portador de propostas ao
mesmo tempo inovadoras e críveis, que devolvam a confiança numa prefeitura
realmente disposta a ser o comando de uma cidade a favor da cidadania.E não a
mera extensão burocrática do poder do dinheiro como tem sido, com requinte, sob
a administração do codomínio Serra/Kassab.
Difícil numa metrópole capitalista como São Paulo? E o que dizer de uma
metrópole quase tão grande quanto e ainda por cima vizinha do império
americano? A esquerda comanda a Cidade do México desde 1997. E o faz com
resultados tão encorajadores que acaba de ser vitoriosa para mais um mandato,
com uma vantagem de 44 pontos sobre a direita local. Claro que não será fácil
para Haddad e para o PT. Serra não une nem o PSDB, mas sabotar a reeleição de
Dilma, em 2014, interessa a todas as facções do conservadorismo que sabem a
importância de vencer em São Paulo. A mídia jogará seu peso desequilibrador
nesse objetivo com duas alavancas: a cobertura tóxica do julgamento do mensalão
e a intriga para estilhaçar a frente progressista, da qual depende a
continuidade do governo Dilma, em 2014.
Fonte: Carta Maior
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