Por Mauro Santayana – em Contexto livre.
A luta pela criação da empresa foi bela e
consagradora. Ela é respeitada internacionalmente, mas ferozmente combatida
|►> Criticada,
vilipendiada, atacada desde o início por aqueles que se recusavam a acreditar
na capacidade de realização da gente brasileira, e achavam que era melhor
entregar nosso subsolo às petroleiras inglesas e norte-americanas, a Petróleo
Brasileiro S.A. só foi criada porque milhares foram para a rua em sua defesa.
Transformou-se em símbolo e bandeira de um Brasil viável, soberano e forte. Com
o tempo, cresceu. |►> Descobriu
petróleo nas 200 milhas de nosso mar territorial. Desenvolveu e aprimorou, ao
extraí-lo, a mais avançada tecnologia de exploração em oceanos. Tornou-se a
mais premiada empresa na disputada Offshore Technology Conference (OTC), o
“Oscar” da engenharia de petróleo. É respeitada internacionalmente, e ferozmente
combatida. Há, hoje, no mundo inteiro, uma luta surda entre as grandes
multinacionais de capital privado e estatais petrolíferas, pelas reservas de
óleo e gás do planeta.
|►> Considerando-se
isso, seria melhor para as grandes corporações internacionais se pudessem
incorporar a seu patrimônio as gigantescas reservas do pré-sal. Ou, que
não tivessem sido obrigadas a aplicar percentual mínimo, no Brasil, em pesquisa
e a transformar o país em um dos maiores polos de desenvolvimento de tecnologia
nessa área.
Há outros problemas enfrentados pela
Petrobras, neste momento, que derivam de equívocos estratégicos cometidos pelo
governo nos últimos anos. Antes de incentivar as vendas de automóveis, para
diminuir os efeitos da crise sobre a indústria, o país deveria ter atentado
para a questão: de onde viria o combustível? Seria possível obter, por meio de
incentivo a veículos híbridos e elétricos, e da liberalização e
desburocratização total da produção de etanol e biodiesel, fontes nacionais de
energia para a movimentação dessa frota?
|►> Se investirmos
mais em automóveis e menos em transporte público, não estaremos aumentando, dia
a dia, mês a mês, o consumo e a importância relativa de insumos importados —
diesel e gasolina — na economia, tendo depois, por conta de inflação, de
segurar os preços? O governo recusou-se a aumentar o preço dos combustíveis,
afetando o faturamento da companhia, quando poderia tê-los corrigido, homeopaticamente,
ao longo do tempo, sem impactar de uma só vez a inflação, como provavelmente
terá de fazer a qualquer momento. Finalmente, a produção nacional também
diminuiu, não por falta de reservas, mas por causa da abundância delas.
|►> Plataformas de
petróleo mais antigas tiveram de ser adaptadas ou substituídas por outras mais
modernas, especialmente projetadas para trabalhar com o pré-sal, que foram
majoritariamente construídas em território brasileiro. Navios gigantescos, como
o João Cândido, o Celso Furtado, o José Alencar e o Zumbi
dos Palmares, fabricados no Brasil, ajudaram a reerguer a indústria naval,
criando milhares de empregos.
Os problemas da Petrobras são transitórios.
Tenderão a se resolver, quando novas plataformas forem concluídas e entrarem em
funcionamento; as novas refinarias forem inauguradas, diminuindo a importação
de diesel e gasolina estrangeiros; e houver uma recomposição paulatina do preço
dos combustíveis.
|►> É natural que,
com o tempo, suas diretorias e subsidiárias tenham se transformado — para
partidos e parlamentares — em alguns dos mais cobiçados cargos da República.
Tudo seria diferente, se, na Constituição, fosse vedada a senadores e deputados
a ocupação de cargos públicos para os quais não tenham sido efetivamente
eleitos. Ou, no limite, houvesse a proibição da indicação, para cargos
executivos, de pessoas de fora dos quadros da própria empresa. Isso poderia
diminuir, ainda sem evitar totalmente, a ocorrência de desvios e problemas,
considerando-se o tamanho da Petrobras e as múltiplas áreas em que atua.
Com todos os problemas que tenha, e que
devem ser corrigidos, a Petrobras é trunfo fundamental para o desenvolvimento e
o futuro do Brasil, no terceiro milênio. |►> Tudo que se
faça, portanto, no âmbito do Congresso, ou da sociedade, pelo aprimoramento da
empresa, tem de ser feito não para enfraquecê-la, mas para torná-la mais forte.
Alfio Bogdan
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