Em silêncio, semblante cerrado, Miguel
Ángel Furci mais parecia uma pessoa só e desamparado na sala do Tribunal Federal,
numa friorenta tarde no dia em que Buenos Aires parou, quase parou, para ouvir,
ver, acompanhar o julgamento histórico onde os outrora senhores do poder
aguardavam o julgamento pelas mortes na violenta ditadura argentina de 1976 a
1983. Não menos feroz que a do Brasil - 1964 a 1985.
►Miguel Ángel Furci mantinha-se
impassível e assim ficou mesmo quando ouviu o juiz ler sua sentença ao pronunciando
seu nome e sua pena: ►25 anos de prisão por ter praticado 67 prisões ilegais e 62
denúncias de tortura, na condição de agente civil da SIDE (Secretaria de
Inteligência do Estado) órgão da ditadura que controlava a repressão. Naquele
dia nenhuma condenação fora superior à de Furci. Outros 17 réus, todos presos,
e ausentes do tribunal, para não ouvirem a sentença.
►Ainda que não compareceram, milhares de argentinos viram
e ouviram pela TV e pela Internet a sentença histórica daquele país quase
vizinho. O único país das Américas que reconheceu e julgou a mais terrível das
perseguições, a “Operação Condor”: Condenados pela primeira vez os militares e
agentes de uma organização que espalhou o terror de Estado sem precedentes no
mundo. ►Um juízo que escancara as culpas e o cinismo do Brasil. Na década de
1970, as ditaduras de seis países do Cone Sul — Chile, Argentina, Uruguai,
Bolívia, Paraguai e Brasil — se juntaram clandestinamente para perseguir,
torturar, matar e fazer desaparecidos os que ousavam se opor aos regimes
militares dominantes.
Enquanto na Argentina condenava-se o
terror – Operação Condor – aqui no Brasil, a lei da anistia anistiava
indistintamente os que espalharam o terror e mortes aos sublevados em nome da
democracia tão vilipendiada ao se usurpar o governo de Jango.
Alfio Bogdan - Físico e Professor
Fonte: Carta Maior
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