Corrente de Luciana Genro no PSOL lança manifesto em defesa
da candidatura de Lula
Ano
de 2017 foi de ataques aos interesses e direitos do povo levados adiante pelo
governo Temer com a cumplicidade e apoio do Parlamento, do judiciário e das
instituições dominantes. São planos de ajuste a serviço do capital financeiro,
que levaram, por exemplo, à destruição da legislação trabalhista. Para levar
adiante este plano de intensificação dos ataques, foi quebrado o pacto da Nova
República que existia entre os partidos tradicionais e o PT. Um pacto que
permitiu que o próprio PT chegasse à presidência da República e fosse parte do
sistema e de sua reprodução. Este pacto já havia trincado profundamente quando
espontaneamente centenas de milhares haviam saído para as ruas em 2013. Mas
naquele movimento o regime foi questionado pela esquerda, com a exigência de
mais direitos. Como resposta, veio um movimento por menos direitos,
aproveitando-se dos escândalos de corrupção para ganhar peso de massas. Foi
neste marco que a classe dominante se decidiu pelo impeachment. As medidas
econômicas que o sistema exigia desta vez não conseguiam mais ser aplicadas
pelo PT, necessitando para tanto de um governo mais decidido a jogar o jogo do
capital mesmo que em choque aberto com o povo. O PMDB aceitou fazer este papel.
E aceitou porque percebeu também que o governo petista já não podia mais
enfrentar e terminar com a chamada operação Lava Jato. O objetivo anunciado por
Jucá de enterrar a Lava Jato somou-se aos interesses dos capitalistas de
aplicação de planos de ajuste. Tal foi a base do impeachment, que tomou a forma
de um golpe parlamentar. Aceitamos esta terminologia porque foi quebrado o
pacto que existia entre os partidos tradicionais para manter a dominação
burguesa. Esteve longe de ser um golpe como de 64, tese durante meses defendida
pelo PT para bloquear qualquer alternativa de esquerda ao seu projeto. Essa
diferença é muito importante porque há muito espaço para a luta e para a
construção de uma alternativa de esquerda, embora o povo sofra derrotas
econômicas e sociais pesadas. Mas os maiores embates estão na nossa frente.
Tanto a relação de forças não é a de uma derrota histórica como foi em 64 que
tivemos em 2017 uma Greve Geral que parou o país e que só não teve continuidade
porque as centrais sindicais, inclusive a CUT, desativaram a luta. Mas os
conflitos irão seguir e a situação política permanece influenciada pelo que
ocorre nas ruas, a tal ponto de que a reforma da Previdência não foi aprovada.
Apesar
de estarmos num cenário em que o povo pode avançar, a grande lacuna, o grande
vazio de construção de alternativa de esquerda segue presente. Nossa posição
sobre o julgamento de Lula em 24 de janeiro em Porto Alegre parte deste marco.
Fomos oposição de esquerda aos governos do PT. Não aceitamos a defesa do regime
e do pacto que foi feito pelo PT com os partidos tradicionais. Este pacto de
sustentação do regime previa a continuidade da concentração de renda e a
manutenção do sistema partidário dominado pelas grandes empresas. O PMDB foi
sempre o partido que articulou estes acordos, ora apoiando o PSDB e depois
apoiando o PT. Quando o PT foi útil, a burguesia aceitou-o e inclusive o
financiou. Depois, tratou de descartá-lo. O mesmo PMDB que foi usado para selar
o pacto foi quem chefiou a queda. Agora, o líder mais popular deste regime
quebrado está sendo julgado. De nossa parte, condenamos o regime, mas não
concordamos com a hipocrisia estabelecida de que a condenação de Lula fará
justiça. Chega a ser absurdo. Temer presidente, Aécio, Eunício Oliveira, Renan
Calheiros, José Sarney, Eliseu Padilha, Moreira Franco livres… E Lula
condenado. Então, não se trata de justiça real, mas de justiça de classe,
instrumentalizada politicamente. E, na política, a condenação de Lula tem como
objetivo garantir a segunda parte do golpe parlamentar – segunda parte que
estão obrigados a cumprir pela situação das pesquisas: tirar Lula da disputa
presidencial para que não exista chance do PT voltar a governar. Se o golpe foi
dado para tirar o PT do condomínio de poder que tinham em comum, não faria
nenhum sentido do ponto de vista dos promotores desta política permitir a
candidatura de Lula.
Por
isso mesmo, sentimo-nos na obrigação de deixar clara a denúncia desta operação.
Permitir ao povo o direito de eleger seu candidato é o motivo pelo qual
defendemos que Lula deva ser candidato. O povo deve ter este direito e uma
eleição sem Lula será ainda mais antidemocrática do que todas as eleições
anteriores. Afinal, se as eleições que temos vivido foram parte de um jogo
comum dos partidos tradicionais e do PT, cujas regras estavam feitas para que
ninguém mais pudesse vencer por fora deste jogo, agora, quando um ator
importante deste pacto anterior é expulso do condomínio, a legitimidade
democrática do processo reduz-se muito mais. De um regime cuja marca é a
alternância entre os partidos burgueses e partidos operários reformistas, entre
direita e esquerda consentida, agora passa a ser um regime sem o direito desta
esquerda governar. Assim, embora o regime anterior não fosse popular, nem
tivéssemos uma democracia real, a eleição sem Lula trata-se de uma grande
restrição. Pode ser dito, sim, que “eleição sem Lula é fraude”. Estamos,
portanto, diante de um claro retrocesso. Assim, repetimos que, apesar de termos
feito oposição ao PT e a seus governantes, defendemos que o povo tem o direito
de escolher. Lula está em primeiro lugar nas pesquisas e não pode sair no
tapetão.
Mas
nossa posição não será de participação nos atos convocados. E não participamos
porque o PT fez destas ações um momento de aprovação de sua política. Arma tudo
para que o ato seja uma ação de campanha eleitoral de Lula e de seus
candidatos. Não faz uma ação que permita a independência e o direito à
diferença. Respeitamos lideranças que, mesmo não sendo do PT, aceitam
participar de tal ação. Mas, como projeto independente que condena
politicamente o que o PT fez na sua política de alianças e em como deu
sustentação ao regime burguês agora em crise, não podemos nos confundir com a
ideia de que este projeto seja reeditado. O projeto de Lula e da cúpula do PT
provocou um desgaste muito grande das ideias de esquerda para que se possa
estar lado a lado com eles num momento em que, mesmo sendo atacados, sua opção
é a de enfrentar os que representam uma alternativa de esquerda verdadeira.
Por
fim, repudiamos qualquer cerceamento à livre manifestação. Por isso,
denunciamos o reacionário prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr., que
pediu o envio de tropas da Força Nacional e do Exército para garantir a ordem
pública na capital gaúcha. Nem mesmo o governo estadual do PMDB deu acordo a esta
provocação. Cabe registrar, precisamente, que são proposições como a demandada
pelo prefeito do PSDB de Aécio Neves que promovem desordem. É a linha de ajuste
do governo Temer e seus aliados que ameaçam a ordem pública.
(Secretariado
nacional do MÊS) [Movimento Esquerda Socialista do PSOL]
Publicado na Revista Forum
Alfio Bogdan - Físico e Professor
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