05-04-18
"— Presidente, ontem, mais uma vez, a
nossa Constituição foi aviltada. O Supremo esqueceu-se do art. 5º, inciso LVII,
que estabelece a presunção de inocência e afirma que ninguém pode ser preso até
uma sentença transitada em julgado. Seis Srs. Ministros atropelaram o Congresso
Nacional e a nossa Constituição. E o candidato virtual à Presidência da
República ponteando todas as pesquisas foi abalado com uma ordem de prisão em
cima de um processo por um apartamento numa praia paulista que nunca foi dele.
Mas
hoje, Presidente, eu quero falar, nesta tribuna, de esperança. Desta tribuna,
que tantas vezes ocupei para denunciar e exprobar as mazelas que adoecem o
País, declaro a minha infinita e absoluta esperança no Brasil. Como,
Presidente, não ser otimista em relação a um País e a um povo há tantos séculos
maltratado, roubado, enganado, açoitado e massacrado, mas que a cada passo deu
a volta por cima, aprumou-se e seguiu em frente?
A história do povo brasileiro é uma incrível jornada de
superação, de teimosia e de coragem diante de tantas adversidades. Mesmo
porque, além dos infortúnios e transtornos conjunturais próprios da existência,
o nosso povo e o nosso País tiveram como adversários tenazes e implacáveis as
classes dominantes, os donos do poder, os donos da mídia e os donos do
dinheiro. Essa é, na verdade, a nossa grande tragédia. É ao mesmo tempo
perturbador e fascinante como um povo assim vilipendiado por suas ditas elites
tenha sobrevido e esboçado a construção de um País tão grande e tão promissor.
Mas é claro, é óbvio que essa dicotomia povo-classes dominantes
deixou sequelas terríveis, como a pior distribuição e a maior concentração de
rendas do Planeta, Presidente Valadares, e a maior distância entre ricos e
pobres, onde apenas cinco pessoas acumulam os mesmos rendimentos da metade da
população; cinco pessoas contra cem milhões.
Não
é apenas isso. Desde os tempos coloniais, o povo brasileiro sofre na carne, nos
bolsos e nos sentimentos os efeitos da traição de suas elites à soberania
nacional. Fez-nos falta, faz-nos falta uma burguesia nativista, orgulhosa de
sua Pátria.
Custou-nos
caro sermos o último país a libertar o povo negro da escravidão. Pagamos até
hoje o preço da combinação deletéria de trabalho escravo com agricultura de
subsistência ou agroexportadora; e importadora de toda sorte de badulaques,
porque aqui não produzíamos sequer os produtos de toucador das senhoras da
casa-grande ou as bonecas de suas filhas.
O
ideal de um País essencialmente agrícola, rural, escravocrata, patriarcal,
branco, católico, apostólico romano, de certa forma perdurou até a Revolução de
1930 e o início da construção do Brasil moderno sob Getúlio Vargas.
Antes
era a metrópole que impedia que se instalasse aqui qualquer tipo de fábrica,
fossem de carroças, velas, sabão, tecidos, linhas para costura, dedais ou
agulhas. Tudo isso vinha de Lisboa? Não, vinha de Londres, para quem
franqueamos os portos, a soberania e o futuro.
Depois,
País independente, as nossas classes dominantes aceitam prazerosamente papel
subalterno na divisão do trabalho, o mesmo papel que a "pérfida
Albion" tentou impor aos Estados Unidos, que reagiram com o "Tratado
das Manufaturas", estabelecendo barreiras protecionistas para criar a sua
própria indústria.
Embora
patético, chega a ser divertido ver essa onda americanófila que entusiasma
setores da classe média – e alguns notórios juizes, promotores e policiais
federais da Lava Jato –, que tomam os Estados Unidos como o norte de suas
vidas, mas nada sabem sobre a formação histórica e econômica deles e da nossa.
Fazem
comparações entre o desenvolvimento norte-americano e o subdesenvolvimento
brasileiro. Caluniam nossos trabalhadores, depreciam o nosso povo com
comentários preconceituosos e racistas, mas esquecem que descendem da mais
retrógrada, servil e inepta das tantas classes dominantes que desgraçam e
desgraçaram a vida dos países do Terceiro Mundo.
Maravilham-se
com Orlando e Miami e apoiam golpes de Estado que cavam ainda mais fundo o
abismo do nosso subdesenvolvimento.
Quem
tem os Rocha, os Lehman, os Sucupira, os Setúbal, os Marinho, os Amoedo, os
Armínio Fraga, os Skaf, os Arida, os Feliciano, os Huck, os Frota, o MBL e
certos juizes, procuradores e delegados federais da Lava Jato, quem tem tudo
isso e mais um pouco não precisa desses típicos e caricatos autocratas da
África, da Ásia ou da América Latina para acorrentar o nosso País ao atraso e à
plena submissão à globalização financeira e imperial.
Com
isso, apesar disso, são admiráveis a perseverança e a fibra do povo brasileiro,
que teima arrostar com todas as dificuldades e segue em frente.
Para
cada Calabar, tivemos dezenas de milhões de Felipes e de Henriques.
Para
cada Silvério dos Reis, multiplicaram-se os Tiradentes, os Zumbi dos Palmares,
os Frei Caneca, os Domingos Martins, as Maria Felipa, as Maria Quitéria, as
Iara Iavalberg, as Elenira Rezende, as Olga Benário. E agora, as Marielle, a
nossa Marielle.
Para
cada cabo Anselmo, avultaram-se os Honestino Guimarães, os Ruben Paiva, os
Herzog, os Santos Dias, os Luís Hirata, os José Arantes.
Para
cada vendilhão, para cada maldito entreguista, tivemos Mauá, Belmiro Gouveia,
Mário Wallace Simonsen, Armando Monteiro, José Ermírio de Morais – já citei –
Brigadeiro Ferolla e o General Lott, Almirante Aragão, Bautista Vidal,
Juscelino, Jango e Getúlio.
Para
cada ministro das Relações Exteriores que proclamasse que o que fosse bom para
os Estados Unidos, seria bom para o Brasil ou que tirasse o sapato para entrar
em Washington, tivemos José Bonifácio, Rio Branco, Otávio Mangabeira, Hermes
Lima.
E
esse olhar para os exemplos de resistência, de amor ao povo, de caráter e
brasilidade que nos estimula a prosseguir. Não é o desânimo com o Supremo
Tribunal Federal, atropelando cláusulas pétreas da nossa Constituição, nem o
discurso do ódio, que hoje contamina o País e faz germinar uma direita hidrófoba,
psicopata, disjuntada de qualquer razoabilidade. Eles não haverão de impedir
que o povo brasileiro se transforme no sujeito de sua própria história.
Porque
não há noites eternas ou mal que sempre dure.
A
mentira, a trapaça, as mistificações não se sustentam por muito tempo. A
mentira, como diz o povo, tem pernas curtas, não vai muito longe e é fácil
pegá-la na próxima curva.
É
por isso que tenho esperança de que esse tempo trevoso em breve se dissipe sob
o sol da mobilização popular, democrática e nacionalista.
Louis
Brandeis, talvez o mais liberal dos juizes da Suprema Corte dos Estados Unidos
de todos os tempos, dizia que o melhor desinfetante é o sol, que não há
podridão, não há obscurantismo, não há corrupção ou tramoia que resista à luz
do sol. Que nada sobrevive à desinfecção do esclarecimento e da transparência.
É
por isso que sou otimista e esperançoso. Porque a luz antisséptica da verdade
dos fatos ilumina, escancara uma sequência de derrotas, dificuldades e
frustrações das políticas neoliberais que as classes dominantes impuseram ao
País sob a atual administração.
A
reforma trabalhista, a tal da reforma que iria, instantaneamente, fazer brotar
do chão milhões de empregos, fracassou bisonhamente.
Foram-se
os empregos formais, com Carteira assinada e direitos garantidos. E as
ocupações informais que os substituíram estão sendo puxadas pelos vendedores de
quentinhas nas esquinas.
Acreditem,
Senadores; acreditem Senadores de pouca fé. Acreditem! Na falta de estatísticas
que mostrassem os milagres da multiplicação de empregos pós reforma
trabalhista, institutos de pesquisas e a mídia foram às esquinas de grandes e
médias cidades brasileiras registrar o espetáculo do crescimento dos vendedores
de quentinhas.
Não
viram na forte expansão das ocupações informais o espelho do fracasso da
reforma trabalhista e da política econômica Meirelles-Temer-Goldfajn.
Ah
sim! Agora, o Governo e a mídia que o sustenta "descobriram" que a
pretendida recuperação do mercado através do emprego (e atividades informais)
"não dá segurança para as famílias voltarem a consumir". Isso pode
comprometer a tal da retomada da economia.
Que
revelação portentosa, Deus meu!
A Folha
de S. Paulo, inclusive, em sua edição impressa do dia 26 de março, fez longa
reportagem sobre essa "descoberta" que certamente haverá de abalar os
fundamentos da economia e candidatará o jornal ao Prêmio Nobel, sem dúvida
nenhuma.
E,
para dar mais sustância ao achado, o jornalão ouviu "especialistas" e
todos – desacreditem! – confirmaram que a propensão a consumir de um empregado
com carteira assinada e direitos trabalhistas, e que por isso tem mais
segurança e acesso ao crédito, é maior que a de um trabalhador informal, sem
carteira assinada e sem direitos trabalhistas e sem acesso ao crédito.
Reafirmo
estupefato: que descoberta, que revelação formidável a da Folha de S. Paulo!
Como,
então, não ser otimista, quando vemos confirmado tudo o que prevíamos? Quando
vemos fracassar a tão acarinhada reforma que as classes dominantes desejavam há
setenta e cinco anos? Esperaram, Senador Valares, 75 anos para liquidar a CLT.
Por 75 anos ficaram de tocaia para exterminar a Era Vargas. E o resultado está
aí.
A
minha esperança em mudanças reforça-se quando vejo que o PIB de janeiro deste
ano, em relação ao de dezembro de 2017, teve uma queda de quase 1%.
Ao
contrário do que aconteceu em dezembro, quando houve foguetório e rufar de
tambores porque o PIB cresceu pífio um por cento, não vi ninguém assomar a
tribuna para cantar a tal da "retomada da economia". Foi uma queda de
R$35 bilhões. Nem a mídia, que por todos os meses finais do ano passado vendeu
aos brasileiros a ideia do fim da crise, nem ela tocou no assunto. Simplesmente
escondeu a notícia.
Não
que eu deseje o pior, mas o despedaçamento da farsa da "retomada da
economia" faz bem ao País, higieniza o ambiente, desinfeta esse ar
empesteado pelas notícias falsas, pelas mentiras, pela manipulação de
informações.
Sou,
portanto, otimista, esperançoso, porque a saída para as graves dificuldades que
enfrentamos, sem sombra de dúvida, a saída, e a saída jamais o que este Governo
propõe e pratica.
É
possível dizer que, em uma escala sem paralelo no mundo, o Brasil tem mais
amplas e seguras condições de retomada de desenvolvimento. Sem dúvida alguma!
Não vou mencionar os recursos naturais, o acesso a tecnologias novas, a
qualidade da mão de obra, a formação de nossos trabalhadores, a infraestrutura,
crédito abundante, fortemente subsidiado, controle do câmbio e das taxas de
juros, proteção ao produto nacional e à soberania.
Tudo
isso, Senador Valadares, é sabido, como é sabido que nada devemos esperar das
nossas classes dominantes, já que elas fracassaram miseravelmente no projeto de
formar a Nação.
Eu
vou falar da necessária combinação de emoção e razão, como fatores de
transformação de um País em crise e um País das esperanças realizadas: emoção,
para levantar a autoestima do povo e engajá-lo em uma verdadeira aventura de
desenvolvimento.
Como
o foi a Era Vargas, a Presidência de Juscelino.
– E poderia ter sido, com as reformas de
base de Goulart, frustradas nos anos de 64, razão para estruturar essa aventura
em bases sólidas, ancorada em um programa político, econômico e social que
contemple os mais pobres, os deserdados dessa sociedade dominada pela usura,
pelo individualismo e pela cumulação desmedida.
Um
programa que atenda os trabalhadores, os funcionários públicos, assalariados de
todas as categorias sociais – as classes médias e o empresariado nacional
produtivo –, gerador de empregos e riquezas, um programa que restaure a
dignidade e a soberania do Brasil.
Emoção
e razão. A emoção da brasilidade, do nativismo, dos sentimentos libertários, da
solidariedade, do amor ao povo; a razão do planejamento e execução de uma
política econômica que signifique, de uma vez por todas, a libertação de nosso
País da pobreza, da dependência e do mando de uma classe intelectualmente
limitada, politicamente medíocre, socialmente maléfica e economicamente
retrógrada.
É
isso o que nos bloqueia. São esses os que atravancam o nosso desenvolvimento.
Não é a corrupção, como querem fazer crer os jejuadores, os ascetas da Lava
Jato. A corrupção relevante é a corrupção das mentes. É a corrupção insidiosa,
persistente, diariamente destilada pela mídia comercial, monopolista, e quinto.
A
corrupção relevante é a corrupção das mentes; é a corrupção insidiosa,
persistente, diariamente destilada pela mídia comercial, monopolista e
quinta-coluna.
A
corrupção relevante é a compra de votos dos Parlamentares, para que aprovem
projetos contra os interesses dos brasileiros e contra os interesses nacionais.
Senhoras
e senhores, ouvintes da Rádio Senado, da TV Senado, este ano de 2018 é o
terceiro ano da crise que se acelerou com o impeachment de Dilma. O
terceiro ano dessa crise!
O
leite e o mel prometidos, com o afastamento da Presidente, transmudaram-se no
fel do desemprego, do arrocho salarial, da paralisia das atividades econômicas
nessa recessão prolongada e sem perspectiva de terminar.
Daí
a minha esperança; daí as razões do meu otimismo: o fracasso das classes
dominantes no governo do Brasil anuncia o evento de um novo tempo, o tempo de
um governo nacionalista, democrático e popular.
Às
ruas, brasileiros! Às ruas e às urnas, que uma coisa não se descola da outra,
porque é nas ruas, mobilizando-se, organizando-se, resistindo, que vamos
garantir as eleições que haverão de derrotar as classes dominantes que há
séculos, Senador Valadares, conspiram contra o povo e contra o nosso Brasil.
Hoje,
quero falar de esperança desta tribuna, que tantas vezes ocupei para denunciar
e exprobar as mazelas que adoecem o País. Declaro, desta mesma tribuna, a minha
infinita, absoluta esperança no Brasil e em seu povo. E insisto numa verdade
que é a verdade da população pobre, trabalhadora e nacionalista do País: eu
quero votar para Presidente, eu quero votar no Lula para Presidente do País". Originariamente nas notas taquigráficas do Senado Federal em 05-04-2018
Alfio Bogdan - Físico e Professor.
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