Manifesto da sociedade dos
indivíduos
Divulgação originária em Migalhas.com.br
Luiz Carlos Guglielmetti
Chega
de elegermos pessoas que colonizam o interesse público e agem como se o estado
fosse um cartório para atender interesses privados e toda sorte de negócios
escusos, sem qualquer efetivo controle social.
A
sociedade que conhecemos atualmente é resultado de padrões, códigos e regras
que formatam as condições e perspectivas de vida. Somos indivíduos livres,
adaptados às regras sociais previamente estabelecidas, como se fizéssemos parte
de um gigantesco condomínio, mas não temos voz nem expressão nesta entidade,
não passamos de dados e estatísticas.
Temos
um sistema político falido, onde podemos escolher os síndicos, mas uma vez
eleitos, se juntam a uma velha casta que tem apenas dois grandes dilemas: como
cobrir os gastos de campanha e como se perpetuar no poder? Outros integrantes
deste sistema que deveriam zelar pela lisura das condutas dos agentes públicos,
agem como um conselho fiscal, meramente figurativo. Agentes econômicos mantêm
relações promíscuas com entes públicos em todos os lugares e instâncias e o
resultado é a corrupção generalizada e a degradação econômica.
Nós
somos livres, mas nos tornamos escravos virtuais de um sistema que é controlado
por uma minoria e ainda temos vícios adquiridos no tempo da colonização, com
distribuição de benesses públicas, troca de favores e nomeação de pessoas, por
indicação, para cargos vitalícios, algumas delas para desembargadores e
ministros das mais altas cortes.
Para
exercermos a plena liberdade é preciso entendermos que o governo estatiza a
arrecadação através de tributos, a maior parte embutida nos preços de produtos
e serviços que consumimos, e privatiza os serviços públicos que deveriam ser
custeados com os recursos arrecadados, como saúde, segurança, educação e
transportes.
Como
nos libertarmos se não compreendemos o que nos domina e escraviza? Se nos
contentamos em poder comprar bens de consumo em suaves prestações, ainda que
custem o dobro do valor ofertado no exterior? Para sobrevivermos temos que
equalizar orçamentos, reduzir nossas necessidades e consumirmos menos, o que
deveria afetar a oferta e reduzir os preços, mas nem o mercado é livre, pois
grande parte dos custos são formados por preços controlados, como energia
elétrica e combustíveis.
Como
sermos livres se a maioria ainda acredita em agentes públicos que distribuem
migalhas disfarçadas de programas de assistência social? Como vermos vantagem
em programas de crédito educativo que apenas financiam as instituições
privadas, em vez de expandir as instituições públicas? Como acreditarmos num
Judiciário que está mais preocupado em equiparar salários e benefícios dos
magistrados, do que em distribuir justiça?
A
verdade que liberta também incomoda, porque é mais fácil nos contentarmos com
pão e circo, como escravos da diversão e entretenimento. A maior escravidão é
individual e está fundada no conformismo, mas a esperança de liberdade está na
coesão social.
Qualquer
movimento ou reação é repleto de riscos difíceis de prever, mas assistir
passivamente é sucumbir ao fracasso e destruição.
No
passado não muito remoto, os governos reprimiam a panfletagem nas ruas e
confiscavam os mimeógrafos que produziam cópias rudimentares. Hoje as redes
sociais poderiam se tornar instrumentos úteis de organização social.
Para
aqueles que ainda pensam que não pagam tributos, aprox. metade do que recebemos
como ganhos ou salários, é gasto com impostos embutidos nos preços dos produtos
e serviços que consumimos. O imposto sobre consumo representa 80% da
arrecadação brasileira, é o mais pesado e recai sobre a camada mais pobre da
população. Para piorar, mais da metade de tudo o que é arrecadado, é gasto
apenas com a manutenção da estrutura estatal.
Temos
liberdade para protestar, mas fingimos que não há nada contra o que se rebelar
e que não há nada que podemos fazer para mudar a situação, mas é preciso expressarmos
a nossa insatisfação, buscando os meios que possam conectar os movimentos para
produzir os resultados desejados. A liberdade que pensamos ter, chegará ao fim
com o caos econômico e social. Não é preciso sermos de esquerda ou de direita,
basta sermos brasileiros, porque num sistema falido não sobrará partidos
políticos. O povo tem o poder, mas não tem instrumentos para utilizá-lo, logo o
poder não emana do povo.
Chega
de elegermos pessoas que colonizam o interesse público e agem como se o estado
fosse um cartório para atender interesses privados e toda sorte de negócios
escusos, sem qualquer efetivo controle social.
Só
o pensamento de revolta não produz resultados, mas não importa o tamanho da
maldade ou destruição, sempre será possível desfazê-la com coragem, vontade e
determinação, movidos pela insatisfação, no intuito de construirmos uma
sociedade mais humana, mais digna e mais justa!
Alfio Bogdan - Físico e Professor
Nenhum comentário:
Postar um comentário