Prezado sr. ROBERTO IRINEU MARINHO
Presidente de O GLOBO
Senhor Presidente,
"Nossa entidade, de âmbito nacional, reúne mais de 4000 associados de
diferentes formações universitárias com profissionais do SISTEMA
PETROBRÁS, tem 57 anos de história, dedicada à defesa da PETROBRÁS, de
seu CORPO TÉCNICO e da SOBERANIA NACIONAL.
No passado, nos dirigimos a O GLOBO, para levar esclarecimentos,
contribuições e nossas opiniões ao debate de temas importantes para o
país. Em divergências de opinião com O GLOBO, muitas vezes tivemos
acolhidas as nossas ponderações, por orientação do sr. ROBERTO MARINHO.
Mais recentemente, verificamos a mesma orientação, em correspondências enviadas a V.Sa.
Estas considerações nos motivam a comentar o editorial de O GLOBO, 4ª feira, 20.06.2018.
A editorialista expressa visão equivocada quando se refere ao "PADRÃO
COLONIAL DO SETOR PETRÓLEO". O Brasil tem, graças ao trabalho da
PETROBRÁS e dos brasileiros, uma moderna e pujante indústria
petrolífera. Embora nova, com apenas 63 anos, numa indústria de 180
anos, a PETROBRÁS já está entre as 10 maiores petroleiras do mundo. O
Brasil tem produção e reservas crescentes, superando três milhões de
barris diários de óleo equivalente. É líder mundial na produção em águas
profundas. A descoberta do PRÉ-SAL é uma das maiores do mundo, nos
últimos 40 anos.
O país tem uma empresa estatal, forte e respeitada.
Quanto ao "intervencionismo estatal, dirigismo", tão estigmatizado
pelo articulista, o controle estatal é a norma na indústria do petróleo.
Consideradas as 5 maiores petroleiras do mundo, 4 são estatais e entre
as 20, são 13. Esta intervenção dos Estados Nacionais tende a crescer,
imposta pela importância estratégica do petróleo.
A competência da PETROBRÁS é indiscutível e pode ser aferida por
parâmetros internacionais. Ela é reconhecida mundialmente, inclusive por
suas concorrentes e pela obtenção de sucessivos prêmios, outorgados por
organizações de grande prestígio como a OTC.
Sobre a corrupção, sempre lamentável e intolerável, toda a Nação sabe
que a PETROBRÁS - CASA DE GENTE SÉRIA - MOVIDA POR PATRIOTISMO, CIENTE
DE SUA MISSÃO, foi vítima de empresários desonestos, políticos
corruptos e executivos de aluguel que não souberam honrar a história da
Companhia.
Tem absoluta razão o GLOBO quando se manifesta contrário à exportação
de óleo cru e importação de derivados. Acrescento, nenhum país do mundo
se desenvolveu exportando matéria primas por multinacionais
estrangeiras.
Ocorre que as causas de tal situação não são aquelas descritas no
editorial de O Globo “o estatismo dirigista” “à corrupção sistêmica” a
falta de “definição e execução de um programa estratégico eficiente para
o processamento do óleo do pré-sal”.
O parque de refino da PETROBRÁS está ocioso, no 1º trimestre deste
ano com 28% de capacidade instalada ociosa, em consequência da política
de preços inaugurada pelo sr. PEDRO PARENTE em outubro de 2016 e que
culminou com a recente crise de abastecimento com a greve dos
caminhoneiros. Os preços altos no mercado interno, alinhados as
flutuações internacionais e dependentes do preço externo do petróleo e
da cotação do Real diante do Dólar desestabilizaram a economia nacional e
trouxeram prejuízos também à PETROBRÁS.
A estatal passou a praticar preços mais altos que os internacionais,
apesar de produzir e refinar seu petróleo no Brasil. Os preços altos, em
especial do diesel, tornaram lucrativos os negócios da cadeia de
importação de combustíveis que puderam, a partir de então, ocupar o
mercado da PETROBRÁS vendendo, com garantia de lucratividade, diesel no
mercado brasileiro. O resultado foi o encalhe do diesel brasileiro nas
refinarias, o que limitou a capacidade de produção das nossas
refinarias, chegando a 30% de ociosidade.
A política de preços é a responsável pela exportação de petróleo cru,
enquanto se importa derivados e o parque de refino da PETROBRÁS é
mantido ocioso. Perdem os brasileiros que pagam mais caro, perde a
PETROBRÁS com redução do seu mercado, ganham os refinadores dos EUA, os
“traders” multinacionais e distribuidores privados concorrentes da
estatal que ocupam cerca de 30% do mercado brasileiro. Temos capacidade
de produzir e abastecer praticamente todo o mercado interno, mas a
política de preços prejudica o Brasil, é a política que denunciamos
desde dezembro de 2017 como “America first!”, os Estados Unidos
primeiro!
Erros do passado não justificam erros mais recentes, na gestão do sr.
PEDRO PARENTE, mantidas pelo sr. IVAN MONTEIRO, que decidiu por REDUZIR
DRASTICAMENTE investimentos no Abastecimento e Refino, limitando-se,
tão somente, ao custeio de gastos de manutenção. Equívoco, erro, ainda
maior, é a venda anunciada de refinarias já em operação. Na verdade, uma
alienação às empresas estrangeiras do mercado brasileiro de derivados,
sétimo maior do mundo.
Por que os grupos privados não investem no setor? Não há qualquer
impedimento legal, desde a Lei 9478/97, portanto, há mais de 20 anos.
A construção de novas refinarias, ao contrário da venda das que já se
encontram em operação, geraria serviços de engenharia, aquisição de
materiais e equipamentos, empregos, renda, aumento na produção de
refinados, estimulando a nossa economia, hoje em forte depressão.
Se grupos privados não investem, que a PETROBRÁS faça os
investimentos! A Nação não pode ficar no aguardo dos interesses e
conveniências estrangeiros, como no passado, quando apregoavam não haver
petróleo no Brasil e os brasileiros tiveram que, partindo do nada,
criar a pujante indústria que aí está.
É descabida a exigência de preços internacionais como condição para
os investimentos no refino. Ainda mais estranho é o desejo de impedir
qualquer ação do Estado Brasileiro no setor. O que desejam? O acesso ao
sétimo maior mercado do mundo e a renúncia do Brasil, a qualquer tipo de
controle sobre setor estratégico de nossa economia? Quanto à afirmação
de que "a PETROBRÁS chegou a ter a maior dívida corporativa do planeta
sem nenhum resultado", também cabem esclarecimentos. Somente no período
de 2010/2014 foram investidos mais de US$ 200,00 bilhões, o que permitiu
desenvolver as acumulações do pré-sal, descobertas em 2006, cujas
reservas podem superar 100 bilhões de barris.
Dívida perfeitamente administrável para uma companhia que, entre 2012
e 2017, tem entre 13,5 e US$ 25 bilhões de caixa, geração operacional
de caixa sempre superior aos US$ 25 bilhões por ano e índice de liquidez
corrente sempre superior a 1,5. Além de perspectiva de aumento da
produção e acesso ao mercado brasileiro que, além de grande, de enorme
potencial de crescimento.
As reservas do pré-sal já produzem mais de 1,0 milhão de barris/dia,
superam 50% da produção nacional, nível alcançado em tempo recorde,
quando comparado com áreas semelhantes como o Golfo do México e o Mar do
Norte. Nesta indústria, é sabido que os projetos têm prazo de maturação
que podem chegar até 10 anos ou mais. Os resultados aí estão. O próprio
GLOBO reconhece que a produção crescerá, extraordinariamente, nos
próximos anos.
Na certeza de que estes esclarecimentos merecerão a melhor atenção do
ilustre presidente, sendo levados ao conhecimento dos leitores de O
GLOBO, renovamos nossas
Atenciosas Saudações,
Felipe Coutinho
Presidente
AEPET - Associação dos Engenheiros da PETROBRÁS"== www.aepet.org.br
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