Quando a força-tarefa de
Sérgio Moro tentou obter da Universidade onde ele se bacharelou em Direito, na
Universidade Estadual de Maringá (UEM), um título de Dr. Honoris causa, fiz uma
longa carta apontando o currículo extremamente pobre da vida acadêmica do Juiz
da Lava Jato. Quando analisei seu currículo na Plataforma Lattes (do CNPq,
Conselho Nacional de Desenvolvimento e Pesquisa, onde Docentes e Pesquisadores
de todo o país disponibilizam suas informações acadêmicas e de pesquisa), em
2016, elaborei um documento para a reitoria de minha universidade e para a
imprensa não-golpista demonstrando porque Moro não poderia receber o título tão
prestigiado.
A
versão do Currículo que analisei naquela ocasião foi consultada em 13/10/2016.
A última atualização do currículo registrava, até então, a data de 25/10/2013
(informação que consta para todos que consultam publicamente o Banco de
dados neste endereço). O juiz
informava no texto-síntese de seu currículo que era Professor Adjunto de
Direito Processual Penal da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desde 2007.
Aqui já temos um grave problema: apesar de ser professor desde 2007, ele não
atualizava seu currículo há três anos! Isto mostrava que Moro era e é um
profissional extremamente improdutivo e desleixado com respeito às suas
atividades como profissional e docente universitário.
Por
estas e outras razões, e especialmente porque seu currículo cabia numa única e
miserável página de sulfite, solicitei veementemente que o título não fosse
concedido ao Juiz. As razões outras, obviamente, se dava pela Justiça
parcializada que ele pratica e que atenta frontalmente contra os princípios
basilares do Direito.
Qual não foi minha surpresa
quando, em 03/07/2018, vi que Moro havia, enfim, atualizado seu Currículo
Lattes: ele o fez no dia 02/07/2018. Seu currículo agora tem duas páginas! No
entanto, existem “discrepâncias” e “omissões” entre a versão de 2016 com esta
de 2018 e que precisam ser imediatamente esclarecidas.
Na versão de 2016, Moro não
informava onde tinha se bacharelado e constava que tinha um Doutorado na UFPR
realizado em apenas dois anos (2001-2002), quando o normal seria de 48 meses (4
anos)! Na versão de 2018, Moro conta outra história: – continua sem aparecer a
Universidade onde ele se bacharelou (UEM); – agora aparece a informação de seu
Mestrado: de 1997 a 2000 (48 meses, quando o normal é de 24 meses); – a
informação dos anos de Doutorado agora muda para 2000 a 2002, e não de 2001 a
2002, como constava na versão de 2016. Ainda assim, Moro teria feito o
Doutorado em menos de 3 anos, pois teria terminado o Mestrado em 2000 e
começado imediatamente o Doutorado neste mesmo ano!
Estas
informações são discrepantes e preocupantes porque mostra que Moro mentiu!
Provavelmente ele atualizou seu Currículo para tentar conter as críticas que se
avolumam sobre sua estranha trajetória acadêmica: meteórica e baseada no
sensacionalismo protagonista. No entanto, repito, essa atualização curricular
mostrou que Moro mentiu! Enquanto todos acreditavam que ele havia feito
Mestrado e Doutorado em incríveis 24 meses, agora ele informa, com ano de
ingresso retificado, que sua formação pós-graduada se deu em 60 meses: prazo
duas vezes e meia maior que o inicialmente informado. Detalhe: as informações
discrepantes e com data errada de ingresso no Doutorado perduraram por cinco
anos desde a atualização de 2013!
Em relação à
sua produção acadêmica que já era extremamente pobre, Moro adiciona um artigo
publicado a mais e numa revista norte-americana (revista “Daedalus”). Em toda
sua vida acadêmica, Moro produziu muito pouco trabalho de qualidade. Posso
afirmar isso, porque as revistas onde são publicados trabalhos acadêmicos
passam por um processo de qualificação, indo do ótimo A1 e A2 (A1 é o maior
escore) para as mais prestigiadas, e de B1 a B5 para as medianas e fracas (B1 a
mais prestigiada neste estrato), e C (sem conceito). Toda a produção de artigos
acadêmicos de Moro mostra que ele teve um artigo em B1, dois em B5, dois em C e
um sem qualificação (o da revista norte-americana “Daedalus”). Moro com este
currículo jamais conseguiria ser um profissional dentro de uma Universidade
Pública (e mesmo alguma Universidade privada de qualidade) que prima pela
extrema qualificação de seus docentes e pesquisadores. Deve ter sido por essa
razão que Moro deixou seu emprego na UFPR.
≪Sobre essa última informação, Moro
apontava em seu currículo versão 2016 que seu endereço profissional era o da
Universidade Federal do Paraná, mesmo sendo Juiz da 13ª Vara (deveria constar
este endereço e não o da UFPR). No entanto, por seu cargo público, tanto a 13ª
Vara quanto a UFPR são entes institucionais públicos. Agora, na versão de 2018,
ele mudou seu endereço: para a 13ª Vara? NÃO! Para o “Centro Universitário de
Curitiba – UNICURITIBA” (contratado como docente de graduação e pós-graduação).
BINGO! Moro coloca numa plataforma pública, o Currículo Lattes, que seu
endereço profissional é o de uma Instituição Privada de desconhecida qualidade
e ainda como docente em dois níveis distintos de ensino. Que eu saiba um
funcionário público não pode acumular salários.≫
Sabemos ainda que Moro
participa de docência
em especializações privadas junto com o juiz Paulsen do TRF-4, o que
demonstra cabalmente o “conflito de interesses” no caso do julgamento do
ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Moro acumula, pois, salários como Juiz
Federal, como professor de graduação, como professor de pós-graduação, como
professor de uma especialização no RS, como palestrante, como receptor de
“auxílio-moradia”, etc. Pergunta-se: esse acúmulo de salários e proventos não é
criminoso?
O que mais aparece de
novidade na nova versão do Currículo do Juiz são textos em Jornais e Revistas
de circulação nacional, demonstrando que ele se orgulha disso: O GLOBO (dois
artigos); VEJA (dois); ESTADÃO (um) e FOLHA (um). Todos veículos de comunicação
identificados como apoiadores do golpe parlamentar-jurídico-militar-midiático
de 2016.
Estranhamente, no item
“Apresentação de Trabalhos” (novo na versão 2018), Moro apresenta sete
“Conferências” ou “Palestras” que teria dado, mas não especifica onde as
proferiu, quem patrocinou e em que data. Isso é omissão de informações, pois
sabemos que a maioria destas palestras são pagas (pelo público) com retorno de
pagamento ao palestrante em valores bastante elevados, como já havia revelado
seu amigo e fiel escudeiro Deltan Dallagnol.
≪O currículo de Sérgio Moro apesar de
paupérrimo diz mais pelo que ele não apresenta, e aqui, o silêncio é um dado
muito interessante. Um destes enormes silêncios (além daquele relativo a
palestras e conferências) é o relativo ao item “Prêmios e Títulos”. Moro elenca
somente um: uma concessão de “Doctor of Laws”, no nível de honoris causa, dada
pela University of Notre Dame, no Estado de Indiana, EUA. Trata-se de uma
universidade privada norte-americana sem grande nome e que faz parte das
Instituições que formam o bolsão do pensamento neoliberal da Direita
norte-americana. A universidade é vinculada a uma Congregação cristã da Santa
Cruz. Está no mesmo nível institucional, guardada as devidas proporções, da
Faculdade FACINEPE que concedeu, aqui no Brasil, um título de Dr. Honoris causa a Deltan Dallagnol.
Detalhe: A FACINEPE sequer tinha curso de Mestrado e Doutorado, e o dono desta
Faculdade estava processado por falsidade ideológica entre outros crimes.≫
Moro esconde todos os seus
Prêmios dados pelo PIG e congêneres: “Faz a Diferença”, da GLOBO; “Homem do
Ano”, da ISTOÉ; “MAN OF THE YEAR”, da Associação Norte-Americana de Comércio; a
homenagem no Paraíso Fiscal de Mônaco da Baviera; além de uma Comenda de uma
das Ordens do Mérito das Forças Armadas. Será que estes Prêmios depõem contra
um dos princípios basilares que deveria estar presente em todos os juízes do
país: a modéstia, o não-conflito de interesses, a isenção? O silêncio de Moro
nessa informação crucial de seu currículo parece confirmar esta suspeita.
Outra informação que
contrasta com a realidade na vida pública e altamente publicizada de Moro está
no item “Idiomas”. No Inglês ele afirma que: “compreende bem, fala bem, lê bem,
escreve razoavelmente”. No Francês: “compreende pouco, fala pouco, lê
razoavelmente, escreve pouco”. No Português: “compreende bem, fala bem, lê bem,
escreve bem”. Para quem viu e ouviu Moro em vários momentos percebeu seu
péssimo inglês (especialmente quando tentou contar um episódio do filme THE
GODFATHER lá nos Estados Unidos, quando chegou a cometer um erro crasso
inúmeras vezes ao atribuir plural a uma palavra que já é plural em inglês: MEN
– homens … ele disse MENS …). No Português, as palavras “COLHEITA de provas”, e
“CÂMERA legislativa”, mostram que Moro tropeça tanto na língua-pátria quanto na
língua inglesa, contrastando com a informação presente em seu Lattes.
≪Só uma curiosidade a respeito de seu conhecimento em
inglês: Moro chama a operação “Lava-Jato” de “Car Wash” em inglês. No exterior,
ninguém sabe o que isso significa. O ideal, para uma tradução mais próxima e
visivelmente perceptual e conceitual, deveria ser traduzida por “Jet Wash”, mas
Moro não “compreende” o inglês como ele falsamente afirma em seu renovado
currículo…≫
⟪Finalmente, debruço-me sobre um dos artigos mais
recentes escritos por Moro: o que já citei na Revista norte-americana Daedalus
(sem conceituação ainda na CAPES, que mensura a qualidade de periódicos ligados
às diferentes áreas de conhecimento), “Preventing Systemic Corruption in
Brazil” (Prevenindo a corrupção sistêmica no Brasil). O artigo, muito esquálido
em suas escassas 13 páginas (escolheu o número “13” também de forma
doutrinária?!?) pode ser acessado nesta
página. Trata-se de um resumão sobre o que Moro chama de corrupção
sistêmica no Brasil, mas escolhendo somente o último decênio de investigação,
como se em 500 anos, a corrupção tivesse sido praticada em somente um governo
(os do PT). Fala do “Mensalão”, cita a máfia siciliana, a operação Mãos Limpas
na Itália, o trabalho de um juiz norte-americano, Stephen S. Trott (num texto
que ele traduziu para o português, mas nada aprendeu das lições que aquele Juiz
deu ao precaver qualquer juiz em se afiançar muito nos depoimentos de
dedos-duros premiados), etc. Um discurso pobre e mal costurado indigno de um
trabalho acadêmico. Ao citar a operação Mãos Limpas na Itália, o faz de forma
tão apressada, que escolheu um artigo em uma de suas pobres citações, aparentemente
ao acaso, que acaba por detonar as próprias ações de Moro e sua troupe
(Dallagnol e Lima, na 13ª Vara) e Gebran (amicíssimo de bancos de Doutorado na
UFPR), Laus e Paulsen (companheiro de cursos de especialização pagos no RS), do
TRF-4. O artigo citado (“The Controversial Legacy of Mani Pulite: A Critical
Analysis of Italian Corruption and Anti-Corruption Policies” – O legado
controverso da Mãos-Limpas: uma análise crítica da corrupção italiana e das
políticas anti-corrupção – ver em: https://www.gla.ac.uk/media/media_140182_en.pdf)
sublinha duramente que a operação italiana faliu em combater a corrupção porque
não houve interesse específico da classe política em apoiar uma agenda
anticorrupção, posto que na Itália, a operação destruiu sistematicamente os
partidos e os protagonistas políticos, deixando o campo aberto para o “reinado”
de um decênio do ultra-mega-corrupto Silvio Berlusconi.
Neste ponto, as duas
operações parecem assemelhar-se: Moro, destruindo um legado surpreendente, ao
colaborar para a deposição de uma presidenta honesta, e colocar na prisão um
ex-presidente sem provas, prepara o Brasil para os anos vindouros de um
fascismo que apenas suspeitamos em ferocidade e destruição extrema…⟫
Ao mentir, omitir
e tergiversar com seu currículo, Moro parece estar dando um recado: “atualizei
meu Lattes para poder deixar o Brasil: mais corrupto, mais ausente de Leis,
porém, com o ‘dever’ cumprido de ter destruído dois ex-presidentes e os
condenado sem provas e ter descido ao último círculo do Inferno de Dante:
aquele destinado à morada da própria Besta sulfurosa em companhia dos traidores
… dos traidores da Pátria” …
*Marcos Cesar Danhoni Neves
é professor titular da Universidade Estadual de Maringá, autor do livro “Lições
da Escuridão” entre outras obras
Originariamente publicado na Revista Forum.
Alfio Bogdan- Físico e Professor.
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