sábado, 16 de maio de 2020

pára-quedas, a cloroquina e o efeito Dunning-Kruger


De Ana Paula Bogdan

O pára-quedas, a cloroquina e o efeito Dunning-Kruger...
Algumas pessoas têm colocado uma comparação entre o uso da cloroquina em pacientes com sintomas leves e precoces de Covid-19 e o uso de pára-quedas não testado pelo Inmetro em caso de um avião caindo...
A comparação não cabe, visto que uma coisa é uma situação extrema num momento de poucos segundos e nenhuma opção plausível, outra é uma situação ainda controlada, em que temos diversas opções plausíveis de suporte e um tempo viável de observação...
Isso me faz lembrar um estudo publicado no final dos anos 90 por dois cientistas sociais. Seus sobrenomes consagraram o termo “efeito Dunning-Kruger”...
Eles descobriram através de protocolos aplicados em diversos estudantes, que quanto menos uma pessoa sabe sobre determinado tema, mais confiança ela tende a ter sobre o assunto, porém quando o indivíduo vai se aprofundando, acaba percebendo o tanto que ainda há por saber e reduz as suas convicções... demonstrando prudência...
O interessante é que mesmo no pico do conhecimento sobre o tema a pessoa jamais atinge a confiança que tinha quando não sabia praticamente nada sobre o assunto em questão!
Isso é interessante demais e verificamos diariamente em debates acalorados na internet ou televisão, nas postagens que viralizam e mesmo em conversas do dia a dia...
Quando conhecemos pouco sobre algo, costumamos fazer análises paupérrimas, superficiais e comparações sem o menor sentido, porque estamos confiantes, mesmo sendo ignorantes naquilo que estamos falando!
Portanto, não é culpa de ninguém ficar postando absurdos nas redes sociais, a pessoa simplesmente está na fase inicial do efeito Dunning-Kruger, algo que a própria ciência já explicou e que parece ser uma resposta natural do ser humano...
Logo, o que creio ser razoável, é tentarmos minimamente nos despir de ideologias, assumir uma certa humildade e buscar saber mais do termo em questão para então nos posicionarmos de uma forma inclusive mais branda e ter maior chance de argumentar com qualidade!
Isso acontece com todos nós... provavelmente varias vezes você que está lendo esse texto teve uma opinião sobre algo que mudou quando se aprofundou no assunto, e por outro lado já conversou com alguém que tinha “certeza absoluta” mesmo não tendo o seu conhecimento sobre determinado debate...
Eu mesmo já tive “convicção” de varias coisas que depois percebi não saber nada daquilo... política por exemplo.
Alfio Bogdan - Físico e Professor - 

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