Há, inicialmente, uma tentação danada de experimentar o
novo por melhor que seja o momento vivido. É o fascínio do desconhecido... É a
pedra filosofal...
Todo fim de ciclo político abre espaço para os "outsiders"
da política.
São períodos em que ocorre um aumento da inclusão, da
participação popular e os mecanismos políticos tradicionais não mais dão conta
da nova demanda. Há o descrédito em relação à política e, no seu rastro, o
cavaleiro solitário, cavalgando o discurso moralista e trazendo a esperança da grande freada de
arrumação.
Fazem parte dessa mitologia políticos como Jânio Quadros,
Fernando Collor e, agora, Marina Silva.
Jânio com o símbolo da vassourinha, quem não se lembra
disso? Collor com a caça aos marajás exemplificando com a aplicação indefensável
do ippon. Os resultados, todos assistimos ou lemos sobre.
Tornam-se fenômenos populares, o canal por onde desaguará
a insatisfação popular com o velho modelo.
No poder, isolam-se por falta de estrutura partidária ou
mesmo de quadros em qualidade e quantidade suficiente para dar conta ro recado
de administrar um país complexo como o Brasil.
Com poucos meses de mandato, a população percebe que não ocorrerá
o milagre da transformação política brasileira e se desencantará com o
salvador. Sem base política, sem o canal direto com o povo, perdem o comando e
trazem a crise política.
Sem que haja composição políticas não e consegue
administrar o Brasil e isto ficou claro desde a redemocratização de 1945 o
Brasil tornou-se um país difícil de administrar, dada a complexidade de forças
e setores envolvidos. Só é administrável através das composições políticas.
Na última década, a
complicação ficou maior porque floresceram uma nova sociedade civil, novas
classes de incluídos e o fantasma da hiperinflação (e dos pacotes econômicos)
não mais funcionava como agente organizador das expectativas e de desarme das
resistências.
Contradições
O maior momento de
Marina foi quando, na OMC (Organização
Mundial de Comércio) defendeu o direito do
Brasil proibir a importação de pneus. No episódio Cessna descobre-se, pasmem, um sócio oculto do ex-governador Eduardo
Campos, que enriqueceu com incentivos fiscais (do estado de Pernambuco)
justamente para a importação de pneus.
Não apenas isso. Desagregadora... Individualização...
Sua vida profissional indica uma personalidade teimosa e
desagregadora.
Começou a vida política com Chico Mendes ( a quem chamou
de representante da burguesia). Depois, rompeu com ele e aderiu ao PT. Foi
parceira de Jorge Vianna, governador do Acre. Rompeu com Jorge, tornou-se Ministra
de Lula.
Em contínuas rotas de colisão com a então Ministra da
Casa Civil, Dilma Rousseff, acerca da exploração da energia na Amazônia. Perdia
os embates nas reuniões Ministeriais, mas criava enormes empecilhos no
licenciamento ambiental.
Nas reuniões
ministeriais, jamais abria mão de posições. Quando derrotada, se
auto-vitimizava e, nos
bastidores, jogava contra as decisões com as quais não concordava.
Saiu do governo Lula
no dia em que anunciou seus planos para a Amazônia e Lula entregou a gestão
para Roberto Mangabeira Unger.
Saiu do governo Lula, entrou no PV e promoveu um racha no
partido. Tentou montar a Rede, juntou-se com o PSB e criou conflitos de monta
com os principais auxiliares de Campos.
A teimosia em geral estava a serviço de ideias e
conceitos totalmente anticientíficos.
Combateu as pesquisas com células tronco. Em 2010, em uma
famosa entrevista no Colégio Marista, em Brasília, anunciou que proibiria
ensinar Darwin nas escolas, por ser a favor do criacionismo.
Se o país resolver insistir na aposta no personagem
salvador, só há uma coisa a dizer: bem feito!
Relativizando a posição de Marina sobre o criacionismo e
a célula tronco
FOLHA - Antes de mudar de partido, a sra. mudou de
religião, de católica para evangélica. No ano passado, equiparou a teoria da
evolução de Charles Darwin ao criacionismo, que atribui a origem da vida a
Deus. Entre fé e ciência, a sra. fica com a fé?
MARINA SILVA - Houve um completo mal-entendido. Fui dar
palestra em uma universidade adventista, que é uma faculdade confessional. A
legislação brasileira permite as escolas e as faculdades confessionais, que têm
o direito de fazer a abordagem do ensino a partir da perspectiva religiosa.
Um jovem me perguntou o que eu achava de as escolas
adventistas ensinarem o criacionismo. Respondi que, desde que ensine também a
teoria da evolução, não vejo problema. A partir daí, as pessoas começaram a
dizer que eu estava defendendo o criacionismo. Sou professora, nunca defendi
essa tese e nem me considero criacionista. Porque o criacionismo é uma
tentativa de explicação como se fosse científica para responder a questão da
criação em oposição ao evolucionismo. Apenas acredito em Deus, é uma questão de
fé. Nunca tive dificuldade em respeitar e me relacionar com os ateus, com pessoas
que professam outras crenças ou outra forma de pensar diferente da minha.
Alfio Bogdan // Texto Inicialmente no Blog do Miro.
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