Aprisionados
em "modelos econométricos" cada vez mais distantes da realidade
social, economistas liberais continuam aferrados à ideia de cortar gastos como única
alternativa possível para garantir o equilíbrio das contas públicas, sem levar
em consideração o impacto dessas políticas de austeridade no dia a dia das
pessoas. Em entrevista à
Rádio Brasil Atual nesta segunda-feira (30/7), o economista Luiz Gonzaga Belluzzo critica
o que chama de "viralatice fiscal" que não só não conserta como
aprofunda os efeitos da crise, principalmente sobre os mais pobres, submetidos
a empregos precários e obrigados a recorrerem a bicos para complementar a
renda.
"A economia – isso deveria ser banal – deve servir à vida das pessoas. É claro que há
restrições, mas cada vez menos. A economia das novas tecnologias seria uma
forma de superar a escassez, se funcionassem direito. Só que essa possibilidade
de garantir a oferta de bens para todos é bloqueada por relações sociais que
fazem com que uns se apropriem dessa abundância toda, em detrimento de outros",diz Belluzzo,...
...que na entrevista detalhou
aspectos do artigo A desumanização da economia, publicado na revista
CartaCapital.
"Estou
falando em desumanização porque, na verdade, os modelos econômicos dizem que o
Estado não pode gastar, o que é uma mentira deslavada. Nessa hora, deve-se
arrumar um jeito de gastar, visando ao aumento do emprego, dos salários e da
renda das empresas. O que estamos assistindo é uma ortodoxia um tanto burra,
porque é desnecessária. A economia está com capacidade ociosa, as empresas
querendo aumentar o seu faturamento e não podem",
explica o economista.
"O caso do Meirelles (ex-ministro da Fazenda e
pré-candidato do MDB à Presidência), p.e., é patético. Eles todos são patéticos.
Ficam dizendo que a economia vai crescer, enquanto fazem tudo errado. Isso é a desumanização da economia.
Eles não pensam nas
pessoas que estão sofrendo", critica Belluzzo.
Em vez de insistir em cortar
gastos que impactam na redução da renda e no aumento do desemprego para o
conjunto da população, o economista defende a criação de um pacote de
investimentos, principalmente em obras públicas, que tem "capacidade
multiplicadora". Políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família
e as aposentadorias, também têm o efeito de aumentar o consumo, criando
empregos e reduzindo as desigualdade, afirma o economista.
Belluzzo usa a construção de uma barragem para
ilustrar como o investimento em obras públicas pode contribuir para destravar a
economia, além de melhorar a vida das pessoas. Essa mudança de orientação na
política econômica traria como resultado o aumento do emprego formal, e
colabora inclusive para o equilíbrio fiscal, já que com a economia aquecida,
aumenta também o pagamento de impostos.
"Numa
obra como essa, contratam-se trabalhadores, que vão gastar a renda que recebem.
Ao mesmo tempo, fazem-se encomendas de equipamentos etc., o que também faz com
que as empresas fornecedoras contratem mais trabalhadores. E isso é o chamado
efeito multiplicador. Aumenta-se assim a capacidade de consumo como um todo, o
que atrai investimentos. As empresas fornecedoras de máquinas, equipamentos e
serviços vão alargando o espaço de circulação da renda."
Nenhum comentário:
Postar um comentário