Companheiras
e companheiros,
Do fundo
do meu coração, agradeço por tudo o que fizeram neste processo eleitoral tão
difícil que vivemos, absolutamente fora da normalidade democrática. Quero que
levem meu abraço e minha gratidão a cada militante do nosso partido, pela
generosidade e coragem diante da mais sórdida campanha que já se fez contra um
partido político neste país.
Agradeço
à companheira Gleisi Hoffmann e a toda a nossa direção nacional, por terem
mantido o PT unido em tempos tão difíceis; por terem sustentado minha
candidatura até as últimas consequências e por terem se engajado totalmente,
com muita força, na candidatura do companheiro Fernando Haddad.
Agradeço
ao companheiro Fernando Haddad por ter se entregado de corpo e alma à missão
que lhe confiamos. Ele enfrentou com dignidade as mentiras, a violência e o
preconceito. Saiu das eleições como um líder brasileiro reconhecido
internacionalmente.
Agradeço à companheira Manuela D’Ávila
e aos partidos que nos acompanharam com muita lealdade nessa jornada.
Saúdo os quatro governadores que elegemos,
em especial a companheira Fátima Bezerra, e também os que não conseguiram a
reeleição, mas não desistiram da luta nem dos nossos ideais. Saúdo os senadores
e deputados eleitos e todos os que, generosamente, se lançaram candidatos,
fortalecendo a votação em nossa legenda.
A luta extraordinária de vocês nos levou a alcançar 47
milhões de votos no segundo turno. Apesar de toda perseguição, de todas as
tramoias que fizeram contra nós, o PT continua sendo o maior e mais importante
partido popular deste país. E isso nos coloca diante de imensas
responsabilidades.
O povo brasileiro nos deu a missão de manter
acesa a chama da esperança, o que significa a defesa da democracia, do
patrimônio nacional, dos direitos dos trabalhadores e do povo que mais precisa.
Tudo isso está ameaçado pelo futuro governo, que tem como objetivo aprofundar
os retrocessos implantados por Michel Temer a partir do golpe que derrubou a
companheira Dilma Rousseff em 2016.
Esta
não foi uma eleição normal. O povo brasileiro foi proibido de votar em quem
desejava, de acordo com todas as pesquisas. Fui condenado e preso, numa farsa
judicial que escandalizou juristas do mundo inteiro, para me afastar do
processo eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral rasgou a lei e desobedeceu
uma determinação da ONU, reconhecida soberanamente em tratado internacional,
para impedir minha candidatura às vésperas da eleição.
Nosso adversário criou uma indústria de mentiras no
submundo da internet, orientada por agentes dos Estados Unidos e financiada por
um caixa dois de dimensões desconhecidas, mas certamente gigantescas. É
simplesmente vergonhoso para o país e para a Justiça Eleitoral que suas contas
de campanha tenham sido aprovadas diante de tantas evidências de fraude e
corrupção. É mais uma prova da seletividade de um sistema judicial que persegue
o PT.
Se
alguém tinha dúvidas sobre o engajamento político de Sergio Moro contra mim e
contra nosso partido, ele as dissipou ao aceitar ser ministro da Justiça de um
governo que ajudou a eleger com sua atuação parcial. Moro não se transformou no
político que dizia não ser. Simplesmente saiu do armário em que escondia sua
verdadeira natureza.
Eu
não tenho dúvida de que a máquina do Ministério da Justiça vai aprofundar a
perseguição ao PT e aos movimentos sociais, valendo-se dos métodos arbitrários
e ilegais da Lava Jato. Até porque Jair Bolsonaro tem um único propósito em
mente, que é continuar atacando o PT. Ele não desceu do palanque e não pretende
descer. Temos de nos preparar para novos ataques, que já começaram, como vimos
nas novas ações, operações e denúncias arranjadas que vieram neste primeiro mês
depois das eleições.
Jair
Bolsonaro se apresentou ao país como um candidato antissistema, mas na verdade
ele é o pior representante desse sistema. Foi apoiado pelos banqueiros, pelos
donos da fortuna; foi protegido pela Rede Globo e pela mídia, foi patrocinado
pelos latifundiários, foi bancado pelo Departamento de Estado norte-americano e
pelo governo Trump, foi apoiado pelo que há de mais atrasado no Congresso
Nacional, foi favorecido pelo que há de mais reacionário no sistema judicial e
no Ministério Público, foi o verdadeiro candidato do governo Temer.
Não teve
coragem de participar de debates no segundo turno, de confrontar conosco suas
ideias para a economia, o desenvolvimento, a geração de empregos, as políticas
sociais, a política externa. E vai executar um programa ultraliberal, de
entreguismo e privatização, que não foi apresentado aos eleitores e muito menos
aprovado nas urnas.
Ele explorou o desespero das pessoas com a violência; a
indignação com a corrupção e a decepção com os políticos. Mas não tem respostas
concretas para nenhum desses desafios. Primeiro porque a proposta dele para
segurança é armar as pessoas, o que só vai aumentar a violência. Segundo,
porque Sergio Moro e a Lava Jato premiaram os corruptos e corruptores da
Petrobrás. A maioria está solta ou em prisão domiciliar, gozando as fortunas
que roubaram. E por fim, Bolsonaro é, de fato, o representante do sistema
político tradicional, que controla a economia e as instituições no país.
As mesmas pessoas que elegeram Bolsonaro vão julgá-lo
todos os dias, pelas promessas que não vai cumprir e pelo que vai acontecer em
nosso país. Temos de estar preparados para continuar construindo, junto com o
povo, as verdadeiras soluções para o Brasil, pois acredito que, por mais que
queiram, não vão conseguir destruir nosso país.
O PT nasceu na oposição, para defender a democracia e os
direitos do povo, em tempos ainda mais difíceis que os de hoje. É isso que
temos de voltar a fazer agora, com o respaldo dos nossos 47 milhões de votos,
com a responsabilidade de sermos o maior partido político do país.
E como diz a companheira Gleisi, não temos de pedir
desculpas por sermos grandes, se foi o eleitor que assim decidiu. Queremos e
devemos atuar em conjunto com todas as forças da esquerda, da centro-esquerda e
do campo democrático, num exercício cotidiano de resistência.
Temos de voltar às ruas, às fábricas, aos bairros e
favelas, falar a linguagem do povo, nos reconectar com as bases, como disse o
Mano Brown. Não podemos ter medo do futuro porque aprendemos que o impossível
não existe.
Até o dia do nosso reencontro, fiquem com um grande
abraço do
Luiz Inácio Lula da Silva
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