Carta do Médico da Fiocruz, Eduardo Vieira Martins
ao colunista de O Globo Merval Pereira:
Merval,
Trabalho há 45 anos na área de
saúde pública tendo trabalhado na Secretaria de Saúde de Minas Gerais e na
Fundação Oswaldo Cruz.
Posso lhe afirmar que conheço bem
os sistemas de saúde em praticamente todos os estados no Brasil em centenas de
municípios da Amazônia ao Rio Grande do Sul.
Em sua coluna "uma crise
política" você foi extremamente infeliz pois citou dados e informações que
são totalmente inverídicas que passo a citar agora.
Atualmente em cerca de 2.800
municípios não existem médicos porque os que se formam no Brasil se recusam a
trabalhar em localidades pequenas onde não existe a possibilidade de terem clínicas
privadas. Na região Amazônica e no Nordeste chegaram a receber salário dobrado
e casa para morar e ali não se fixaram.
Os médicos formados em Cuba são
treinados para a atenção médica integral no modelo de saúde da família em que o
profissional, clinico geral, exerce sua atividade obedecendo à lógica de saúde
integral de prevenção, promoção e intervenção. Nos Estados Unidos existe o
"family doctor" que trabalha nessa lógica e é o médico que quando
necessário encaminha seus pacientes aos especialistas. Esse é o modelo
preconizado no SUS, que não se aplica bem no Brasil uma vez que aqui os médicos
são formados na lógica da especialidade e da intervenção e nunca da promoção e
da prevenção.
Se você comparar os índices de
saúde, preconizados pela Organização Mundial da Saúde, pode verificar que os
números de Cuba estão nos níveis da Europa e de outros países avançados e no
Brasil os resultados são absolutamente lamentáveis pois não prevenimos nem
promovemos a saúde. Esperamos as pessoas adoecerem e entrarem nas filas de
atendimento, onde por vezes morrem, o que infelizmente assistimos diariamente
nos telejornais do Brasil.
Se você tiver a curiosidade de
verificar os indicadores de saúde dos municípios onde esse médicos vem
trabalhando poderá constatar a melhoria significativa nos níveis de saúde
daquelas populações.
Se você não sabe, a Organização
Pan Americana de Saúde que é a gestora do convênio Brasil Cuba é uma
instituição extremamente séria e jamais aceitaria colocar médicos "em
trabalho escravo" ou médicos sem formação adequada em um de seus
programas. Seria bom que você procurasse essa instituição antes de afirmar, aos
seus leitores mais esclarecidos as mentiras do seu texto.
Lamento que você, um membro da
ABL, que para mim tinha alguma credibilidade, se preste a escrever um texto
totalmente sem fundamento, com conclusões erradas. Sugiro que em suas próximas
colunas, sobre temas que você não tem o conhecimento básico, procure se
informar melhor e escute especialistas da área e não, como neste caso um
ortopedista e médico do esporte, de um hospital de emergência da Zona Sul do
Rio de Janeiro.
Eduardo Vieira Martins -DSC FIOCRUZ tem
graduação em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal de Minas Gerais
(1973), especialização em Saúde Pública (ENSP) e Tecnologia Farmacêutica
(U.Gent, Bélgica) mestrado e doutorado em Ciência da Informação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é tecnologista III da Fundação Oswaldo
Cruz. Possui experiência nas áreas de Saúde Coletiva, produção e inovação em
medicamentos e vacinas.
Alfio Bogdan – Físico e Professor – nalista em acidente de
trânsito.
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