terça-feira, 3 de setembro de 2019

CONVERSA PRA BOI DORMIR

Nos imensos sertões do Brasil, há muitos anos existe uma expressão popular: “conversa para boi dormir“. É usada para designar conversa mole, desculpa esfarrapada ou mentira. Esse dito se enquadra perfeitamente para descrever o decreto assinado na quarta-feira (28) pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL-RJ), proibindo o emprego de fogo no Brasil para limpar áreas rurais, salvo nos casos autorizados pelo órgão ambiental competente, nas práticas de prevenção e combate a incêndios e na agricultura de subsistência praticada por índios. O decreto foi proposto pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em resposta às queimadas na floresta Amazônica, descritas como uma catástrofe pelos líderes do G7, os países mais ricos e industrializados do mundo. E que estão mobilizando protestos ao redor do mundo – há amplo material disponível na internet.O decreto foi publicado na quarta-feira (28) no Diário Oficial da União (DOU). No sábado (31), houve uma segunda versão do decreto restringindo a proibição apenas à floresta Amazônica – que se estende por nove estados. Agora, começa o trabalho do repórter. Antes de seguir, eu quero conversar com os jovens repórteres. São escassos grandes jornais e redes de TV ou de sites ao redor do mundo que não tenham um repórter especializado em floresta Amazônica, tal é a importância desse canto de mundo para a sobrevivência da humanidade. Além deles, ainda existem os cientistas que estudam tudo o que acontece na floresta e as ONGs. Portanto, cada linha que publicamos é examinada. Daí a necessidade de sermos exatos nos nossos conteúdos e muito precisos na maneira de escrevê-los. Disse isso baseado na minha experiência de vida: tenho 68 anos, quarenta e poucos de profissão, e o foco da minha carreira foi a cobertura de conflitos agrários entre índios e garimpeiros, sem-terra e fazendeiros e crime organizado de fronteira. A imprensa estrangeira tem um pé atrás com a exatidão das reportagens que publicamos, uma herança deixada pela censura que foi imposta aos jornais brasileiros pela ditadura militar (1964 a 1985).Retomando a contar a história. O que já sabemos sobre as queimadas? Elas acontecem todos os anos. Além do clima, que favoreceu as queimadas, o que houve de diferente? Dois fatos: o primeiro é que o atual presidente da República, durante a campanha eleitoral, em 2018, prometeu aos seus eleitores da região que iria flexibilizar as leis ambientais para favorecer o progresso. O segundo fato: ele cumpriu sua promessa de campanha e começou um desmonte do aparato, que já era precário, dos órgãos de fiscalização na região. Fez mais: começou uma campanha pública contra a parceria que as ONGs tinham com o governo federal. Ao atacar as ONGs, Bolsonaro tirou do sistema de vigilância dos órgãos ambientais a capilaridade na coleta de informações a respeito dos madeireiros clandestinos da floresta Amazônica. As ONGs têm gente espalhada por todos os cantos.Dentro desse cenário, um grupo de pessoas se sentiu à vontade para articular o “dia do fogo” no Pará e no Amazonas. Aqui é o seguinte. Nós temos que deixar claro aos nossos leitores que a mão que acendeu o fósforo faz parte de um sistema muito bem montado nos últimos anos de uma indústria de certificação falsa para madeiras derrubadas de maneira ilegal. E essa indústria supre uma boa parte dos mercados internacionais de madeira no Sul do Brasil e em outras partes do mundo. Essa indústria é aliada ao comércio ilegal de ouro e diamantes que financia o garimpo clandestino nas áreas indígenas. Conheço toda a região, onde estive várias vezes fazendo reportagem. As informações estão disponíveis em relatórios oficiais e processos em tramitação na Justiça Federal. Dentro da realidade dos fatos, qual é o efeito do decreto assinado…    (diretamente do Telegram)
Alfio Bogdan - Físico e Professor. 

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