sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Zé de Abreu sempre na linguagem popular

A crítica do ator José de Abreu à Regina Duarte provocou reações no establishment politicamente correto e covarde. Algum desconhecido escreveu até um artigo no jornal Folha de S. Paulo para acusá-lo de "machista".
Mas Zé de Abreu está acima dessas reações que bajulam o sistema podre da crítica social de vitrine. Os áudios que ele enviou à coluna de Mônica Bergamo na mesma Folha de S. Paulo são antológicos. São para serem lidos e relidos por várias décadas, como registro verdadeiramente crítico da covardia existencial que arrastou o Brasil para o lixo humano que é o bolsonarismo.
Zé de Abreu usa o léxico, o tom e a semântica assustadoramente adequados para o momento. Sua crítica à Regina Duarte é zero machista e 100% política. É irrespondível.
A "secura" de seu discuso direto é um soco bem dado na enrolação das argumentações intelectuais de conciliação, tão glamourosas quando inúteis.
Zé de Abreu é ainda uma lição na esquerda bem comportada que quer parecer "boazinha" e "justa". Ele é tudo o que o Brasil precisa neste momento: cuspir em fascista e denunciar e expor a imundície de homens e mulheres que se aliam ao terror.
Mil vivas a Zé de Abreu. Que ele jamais pare.
A seguir, a transcrição de seus áudios:
“Fascista não tem sexo. Vagina não transforma uma mulher em um ser humano. Eu não vou parar. Eu sou radical mesmo e estou num caminho sem volta.
Não existe sexo [homem ou mulher]. Quem apoia miliciano, homofóbico, torturador, pra mim nem humano é. [Quem apoia o Coronel Brilhante] Ustra, [o ex-ditador do Paraguai Alfredo] Stroessner [já elogiados por Jair Bolsonaro]. Você sabe quem foi Stroessner! Torturador, pedófilo, estuprador de crianças, narcotraficante. Ele tinha uma rede de pessoas que pegavam crianças pobres para serem estupradas.
Como é que uma pessoa dessas [referindo-se a Regina Duarte, que apoia e integrará o governo de Bolsonaro]... não, eu tô indignado. Não dá para respeitar quem apoia o Bolsonaro. Eu não tenho o menor respeito. Para mim não interessa se é homem ou mulher. Não pode. Não pode. Fascista a gente trata no cuspe. Não há como considerar o fascista um ser humano. E quem apoia fascista, fascista é.
É aquela história: tem 11 pessoas numa mesa. Senta um fascista e ninguém se levanta. São 12 fascistas. Não tem como respeitar. Sinto muito. Eu sou radical mesmo e estou num caminho sem volta. E não me arrependo.
Os gays me ligam, me mandam Whatsapp. Aquilo que eu postei, que [maquiadores e cabeleireiros] tiraram as rugas, os cabelos brancos, que costureiros fizeram roupas para esconder as banhas [de Regina Duarte] não é uma criação minha. As pessoas me ligam apavoradas, entendeu? Como é que pode uma atriz participar de um governo desses? É um negócio de louco. Ela diz que recebeu um chamado divino. Porra, é contra índio... ah, não dá. Desculpa. Mas é muito difícil.
Eu repliquei [as afirmações sobre rugas, cabelos brancos e banha]. Quem [me] falou isso foi uma mulher, lésbica, da TV Globo. Ela usou essas palavras: “Quantas de nós, gays ou lésbicas, tiraram as suas rugas, pintaram seus cabelos, e fizemos roupas para esconder as tuas banhas?”. Isso não é minha criatividade. Eu não sou tão criativo assim.
Desde que a Regina foi ao Bolsonaro na eleição [para apoiá-lo, em 2018], camareiros, maquiadores, costureiros, todos me falavam “o que essa mulher vai fazer ao apoiar um homofóbico?”. Falei isso para ela. Mandei recados para ela.
Se der alguma merda, bicho, eu estou numa certa idade... eu tenho visto da França, eu tenho visto da Grécia. Eu posso morar em qualquer lugar do mundo. Posso trabalhar na França, meu visto dá direito. Se não puder voltar para o Brasil, não volto. Mas não vou parar. Não vou parar.
E veja quantas mulheres me apoiam no Twitter. Fascista não tem sexo. Simone de Beauvoir falava “tornar-se mulher”.Vagina não transforma uma mulher em um ser humano. Assim como o pênis não me transforma em um machista misógino.
Sou, talvez, sim, machista, misógino, por uma educação [que recebi], pela sociedade. Mas a cada dia eu tento “mulherar”. A cada dia eu sou menos machista, menos misógino. E tenho certeza disso.
Tenho uma filha que, poxa... eu sei do que estou falando. Ela me disse “o verdadeiro amigo avisa quando tem feijão no dente”. Eu falei “sim, ele te chama num canto e fala ‘você está com um feijão no dente’. Não pega o microfone num restaurante e diz “você está com feijão no dente” [referindo-se a uma conhecida que o criticou no Twitter].
Minhas esposas podem testemunhar o meu comportamento. E são várias. Eu piso na bola às vezes. Mas, numa boa, se há um homem que procura “mulherar” a cada dia sou eu.
Eu não vou parar. Não vou parar. Eu sei que estou certo. A minha consciência diz que eu estou certo. E eu vou continuar nessa." (Do Gustavo Conde)
Alfio Bogdan - Físico e Professor - analista em acidente de transito. 

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