sábado, 7 de agosto de 2021

Diálogo. de meus amigos Colombera Mirtes e Jairo Teixeira Mendes Abrahão

Minas Gerais tem muitos encantos. Mas o mais valioso, para mim é o sotaque. Aliando-se a ele o vocabulário obtém-se o verdadeiro, e mais notável, caráter do nativo das Alterosas. Alterosa foi uma importante revista, mensal, mineira, de minha infância. “Alterosas” era o simpático apelido de Minas, então. Outras prerrogativas mineiras, não menos importantes, são o Romeu e Julieta, o queijo Canastra (e todos os queijos mineiro), águas minerais perfeitas, como a de São Lourenço (pertim de Brazópis, que a Nestle “privatizou” e está causando estragos à melhor Estação de Águas do Sul de Minas), o pastel de angu, o frango com quiabo e os Pés de moleque de Piranguinho, que, como Itajubá, pertence à Grande Brazópolis. Certamente minha terra tem muito mais que estes atributos! Se alguém me perguntar o que Minas tem de melhor colocar-me-á em uma camisa de onze varas (credo!!!)! Seria o queijo, ou a cachaça, ou a marmelada? Mas acabo não tendo dúvida. Um dos maiores prazeres da vida é a gula! Não o “pecado capital” mas a gastronomia. Aí já fica mais fácil. A melhor coisa de Minas, para mim, é a pamonha! Não qualquer pamonha, nem mesmo a de Piracicaba, “o verdadeiro creme do milho”! A melhor pamonha que já comi foi a de Dona Cândida, mãe de Euclides Machado, esposa de Seu Tonico! Eles tinham uma chácara nas bandas da Igreja d’Aparecida onde, uma vez por ano reuniam os parentes e amigos para fazer pamonhas! E comê-las, é claro! Primeiro se colhia o milho verde, variedade “Cateto”, amarelo, em seguida as espigas eram transportadas até a porta da cozinha onde todos já se encontravam. As espigas eram despalhadas, muito cuidadosamente, para não estragar a palha, com a qual seriam feitos os “envelopes!” “Envelopes”, não saquinhos costurados, que eram coisa de paulistas! Cuidadosamente se retiravam os “cabelos” dourados, das pontas das espigas, para, em seguida ralar, uma por uma em uma grande bacia. A massa de milho ralado era adoçada no ponto certo. Um grande caldeirão, que também podia ser uma panela de ferro, que conservava melhor o calor do fogão a lenha, de rabo longo, evitando a queda dos tições no chão. Quando a água fervia, as especialistas em “envelopes”, adrede preparados com carinho e precisão para evitar vazamentos; uma tira de palha era usada como cinta da pamonha, com um nó caprichado. Cumpre ressaltar que o “envelope” constituía-se de duas palhas, devidamente dobradas para se fazer o continente, o conteúdo era a massa de milho ralado e adoçado em densidade adequada. Generoso naco de queijo meia-cura era mergulhado na massa. As pamonhas eram levadas à água (de mina!) fervente. Alguns minutos na fervura e eram retiradas fumegantes e cozidos aqueles pedaços do mais maravilhoso pitéu! Mamãe, papai, Tininha, Sonia, Joca e eu fazíamos a caminhada até a chácara, com as bocas cheias de água, já imaginando o precioso sabor de minha imagem de Minas Gerais! Comíamos tanto que nossos intestinos funcionavam como relógios biológicos, por uma semana! Nossa casa, à Rua da Preguiça já tem, praticamente, vinte e quatro anos, e estamos começando a manutenção qüinqüenal. Começamos na semana passada, e a chuva atrapalhou um pouco, mas, amanhã a primeira parte da pintura deve estar pronta. A casa que fica à nossa direita é de uma família mineira e está cheia de mineiros, em férias. Numa dessas manhãs, quando saiam para a praia, quais ledos passarinhos, passaram em frente de casa para a praia. O alarido é reconfortante! A frente de casa tem vinte e cinco metros de muro com grades. Que permitem uma boa visão do jardim. A parte de alvenaria pintamos de “Vermelho amor” e a grade e os portões de “Prata velha”, tudo Suvinil! Um dos mineiros separou-se do grupo e se aproximou de mim. - Bom dia, sô! Qui beleza ta ficando! - Obrigado! - Tudo vermeio? - Não, a grade é prata. - Uai, sô! O sinhor é comunista? - Não, disse sorrindo, por que? - Uai, comunista não é tudo vermeio? - Todo comunista pode ser vermelho, mas nem tudo que é vermelho é comunista! - Ah! Bão. Que trem doido sô! E lá se foi o grupo deliciosamente simpático, para a praia de Taperapuan, a mais famosa de Porto, onde, certamente, ficarão até a noite! Não sei o nome de nenhum, mas sei, pelas placas dos carros que são de Januária. A rigor, mineiro é uma coisa tão maravilhosa que nem precisa ter nome! De Porto Seguro. BA, em 04/07/2021. Jairo Teixeira Mendes Abrahão Professor Titular da ESALQ-USP 

Um comentário:

  1. Oi Alfio. Gostou? Ficou com vontade de comer pamonha tb? Um abração e obrigada pela publicação.

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