quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Trabalho de Bianca

Prólogo:
Detetive Benjamin e seu auxiliar Bruce estão voltando de mais um caso solucionado na cidade de Brighton, onde uma tragédia ocorre na festa de ano novo em que um casal de crianças é seqüestrado e é encontrado morto aos arredores da mansão de Mr. Yorke, onde ocorreu a festa. Um antigo mordomo frustrado por ter sido despedido após ser encontrado por sua patroa roubando suas jóias, querendo vingança comete homicídio e logo após suicídio.
Já exaustos da investigação, seguem caminho a Ascot, cidade onde moram. Muito sonolento, Benjamin fecha os olhos para tentar suavizar o ardor. É quando um carro vem em sua direção e, assustado com a buzina, abre rapidamente os olhos e tenta desviar seu carro, perdendo o controle do veículo e derrapando-o na neve.
           
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Inglaterra, 1979.
O Sol estava a pino enquanto seguíamos pela rodovia, coberta de neve, provocando uma grande claridade. Pedi a Bruce que pegasse meus óculos de sol. Estávamos voltando de Brighton,acabávamos de resolver um homicídio qualificado,em que sucederam-se dois óbitos,crianças. Era um caso - que em particular – me deixava muito pesaroso.

Não estava prestando atenção no que Bruce me dizia, ele era um bom auxiliar, ótimo até, certamente estava tecendo algum comentário sobre o caso.
Estávamos na metade do caminho, normalmente esse percurso demoraria dois quartos de hora, mas nas circunstancias em que nos encontrávamos a viagem tendia a ser mais lenta e perigosa.

Passáramos a noite em claro, o cansaço me consumia, a única coisa que desejava era parar para descansar.

Meus olhos estavam pesados e já não conseguia mantê-los abertos. Foi tudo muito rápido. Tudo girava, olhei para Bruce e vi sua expressão de pânico. Não me lembro de mais nada.

Pouco a pouco recobrei minha consciência e visualizei o acidente que havia ocorrido, uma onda de desespero me inundou. Olhei para o lado e tudo que pude ver foi meu parceiro, com um corte na testa, inconsciente. Levantei-me rapidamente e fui buscar ajuda. Depois de andar alguns metros – creio que foram muitos – consegui avistar uma luz, uma luz fraca e tremula.

Percebi então que a nevasca estava se agravando, precisava chegar a algum lugar o mais rápido possível, a luz ficava cada vez mais próxima até que me dei conta que já estava em frente ao local almejado.

Era uma construção antiga, parecia abandonada. Bati na porta e uma senhora com uma expressão sombria me recebeu, ela me olhava desconfiadamente. Disse ofegante que precisava de amparo e ela convidou-me a entrar.

Contei o que havia acontecido e perguntei se lá existia algum meio de comunicação, a mulher – Elizabeth, a propósito - me levou até um telefone, mas a tentativa de falar com a equipe de resgate foi falha. Já era hora do crepúsculo, agradeci a sua ajuda e pensei em partir, mas Elizabeth tocou meu ombro e me ordenou a ficar, não havia escolha, pois a nevasca bloqueara todas as saídas. Tive uma ligeira impressão de escutar alguém me mandando ir embora. Senhorita Elizabeth me levou até meus aposentos, era um quarto sombrio, porém com as camas arrumadas e os móveis com muita poeira e um pano os cobrindo.

Meus pensamentos não me deixavam descansar. Eu não estava sentindo dor, como isso era possível? Fiquei por um tempo me perguntando certas coisas e imaginando como Bruce estaria em meio aquela neve toda, caí no sono. Era madrugada quando acordei ofegante.

Seria difícil encontrar um lugar arejado dentro de uma casa daquele tipo, a escuridão tomava conta desta. Tive novamente a impressão de ter ouvido um sussurro, olhei ao meu redor e com a pouca visão que tive consegui avistar um rosto, um rosto de criança talvez. Achei que estava delirando, o meu caso recém resolvido havia me deixado perturbado, não tinha solucionado nada igual anteriormente.

Segui as vozes até o corredor, sussurros pedindo socorro estavam se tornando gritos de agonia e cada vez mais próximos, me deixando cada vez mais apavorado. Meus passos se apressavam e uma luz no final do corredor se acendeu, era Elizabeth.
-- Imagino que algo atrapalhou seu sono, por que está acordado?

Fiquei pensando em alguma resposta convicta, talvez ela não acreditasse nessa história de vozes, porventura fosse paranóia minha.
-  Estou com sede, pode me levar até a cozinha?
Inventei uma desculpa qualquer, percebi uma expressão confusa se formar em seu rosto, não entendi o porquê.

Meu pedido foi ignorado e ela voltou até seu quarto, antes de fechar a porta disse com um tom ríspido:
- Não vá até o porão.

A luz se apagou deixando o local escuro novamente. Meu instinto me guiou até lá embora o pedido fosse claro.

Depois de muito andar em meio a escuridão e evitando o barulho, cheguei. Vasculhando as coisas e assoprando a fuligem, esbarrei em uns papéis que estavam amarrados, aquilo chamou minha atenção. Eram artigos de jornais - típicos documentos que reconheceria de longe - comecei a ler.


4 de Outubro, 1897.
ORFANATO EM CHAMAS.

Incêndio ocorreu no final da tarde de ontem no Orfanato Redd. Não há vestígios de sobreviventes, o corpo da proprietária Elizabeth Redd não foi encontrado. Supostas causas estão sendo investigadas, não descartando a possibilidade de um ato criminoso. Uma das principais suspeitas é (...)

(....)

Um toque em meu ombro dispersa minha leitura, por um momento achei que fosse Elizabeth, chamando minha atenção. Olhei para trás e me deparei com uma criança com o olhar fixo em mim. Sua face era deformada com queimaduras e cicatrizes, com uma expressão sombria.

Atirei os papéis contra o ar, espalhando-os pelo assoalho.
- O que houve, você está bem? - perguntei.
Ela não respondeu.
- Há mais crianças aqui?
- Fuja. – disse ela gravemente.

Os papéis começaram a queimar e comecei a ouvir gritos agoniados rogando socorro. Um cheiro forte de fumaça dominou o ambiente. Abandonei o local, correndo.
Quando me deparei com a neve, percebi que já estava do lado de fora e tudo atrás de mim estava em chamas.

Caminhei sem rumo por um tempo, pensando no que havia presenciado. Lembranças do acidente vieram à tona. Pensei em Bruce, onde ele estava?Será que estava bem?

De repente meus pensamentos mudaram novamente de direção e agora estavam focados no incêndio que acabara de ocorrer, aqueles documentos relatavam que o corpo da senhora Redd não havia sido encontrado. A pessoa com quem conversei era um fantasma? Eu podia ver fantasmas e conversar com eles ou estava ficando louco? As coisas realmente não faziam sentido e eu já não sabia mais em o que pensar.

O dia já estava clareando novamente e eu não estava longe de onde havia ocorrido a tragédia que envolvia meu fiel companheiro, precisava contar-lhe tudo isso. Caminhei apressadamente, pois precisava resgatá-lo, rezava para que ele ainda estivesse vivo.

As árvores dificultavam o caminho e eu não sabia ao certo qual era a minha localização, por sorte, pedaços de vidro jogados no chão me ajudaram a chegar. Bruce estava deitado, mas não no mesmo lugar em que o vi pela ultima vez, havia uma fogueira ao seu lado e ela estava acesa, era um sinal, ele estava vivo. Não me contive de alegria, minhas tentativas ao tentar acordá-lo eram nulas, eu gritava e o empurrava, mas parecia que ele não me ouvia e muito menos me sentia.

Olhei ao meu redor e avistei pés, estavam vestindo um calçado familiar, eram os meus sapatos! Mas quem poderia ser? O resto do corpo estava coberto de neve, não conseguia distinguir.

Será que havíamos ferido alguém no acidente? Enquanto tirava a neve da face - já sem cor - tudo começou a fazer sentido. As reações estranhas da senhora Redd, a minha pouca sensibilidade em relação às dores e Bruce não podendo me sentir e escutar.
O corpo que jazia sem vida - e estranhamente familiar - sobre a neve, era o meu. Estava morto.
Bianca Barbério Bogdan Tedeschi
1º Colegial - 2010

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