Verdade
não tem donos
em 15/06/2013
Conhecido
como cordial, o brasileiro tem, sim, alguma tendência a pôr pedra sobre
determinados assuntos. A Comissão Nacional da Verdade e a Lei de Anistia são
dois deles. Instalada há um ano, a comissão mostrou ousadia na apresentação de
relatório parcial, pela primeira vez com indicação de responsabilidades e
citação a comandos militares. Ainda sofre pressão de quem espera avanços na
conciliação do país com sua história. Mas também de quem acha que tudo deve
ficar como está. Essa ala afirma que a Lei de Anistia, aprovada em 1979, em um
país ainda presidido por general, promoveu a pacificação.
Mas crimes contra a humanidade não prescrevem, segundo o
direito internacional. E opositores da ditadura foram processados – quem
sobreviveu à prisão, claro –, com base nos tribunais e leis do regime
autoritário. Ainda hoje, defensores de 1964 afirmam que o golpe se antepôs ao
“risco” de uma ditadura comunista. Uma balela. A pretexto de defender a
democracia, militares e civis a interromperam por 21 anos. Muitas vezes, como
escreveu em 1994 dom Paulo Evaristo Arns, tocando no corpo de suas vítimas para
machucar, destruí-las psicológica e humanamente, matar. A Comissão da Verdade
não surgiu para “vingar” ninguém. Mas para apresentar a versão da história por
décadas sufocada. É sobre esse desafio a reportagem de capa.
Esta edição fala ainda sobre outro desafio do futuro, agora
na área econômica: as medidas adotadas pelo governo, especialmente as
desonerações tributárias – que reduzem custos da produção e encorajam
consumidores – e seus possíveis efeitos na retomada do crescimento. Mesmo
rateando, com tropeços, o país se diferencia do mundo em crise por recusar o
receituário da “austeridade” e continua criando postos de trabalho com carteira
assinada e ostentando as menores taxas de desemprego de sua série histórica. Talvez
se possa inferir que nem só o PIB mede a eficiência econômica de um país.
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