A presidente Dilma
Rousseff deu a volta por cima. Para quem apostava nas suas deficiências de
virtude e fortuna – as duas qualidades fundamentais para um governante que se
pretenda condutor dos destinos de um povo, segundo Maquiavel – suas respostas
às manifestações de junho, e os fatos que se sucederam a elas e antecederam ao
prazo legal final para filiação partidária dos políticos com pretensões
eleitorais, mostram que a presidenta pode não ser uma Pelé
da política, mas é capaz de jogar um bolão quando se dispõe a entrar em campo.
E que a sorte que, no passado, a fez emergir de um ministério técnico e ser
guindada ao principal gabinete do Palácio do Planalto, não a abandonou.
Comprar a briga pelo Programa Mais Médicos foi uma aposta arriscada, pois foi feita no momento em que as bandeiras empunhadas por milhões de manifestantes eram muito dispersas e existia o risco de que se confundisse a reivindicação de Saúde Pública de qualidade com os vetos corporativos das entidades de classe dos médicos. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a jogada do Ministério Público, que conseguiu contrabandear o veto à PEC 37 na lista de reivindicações populares sem que as pessoas que arriscaram a pele indo às ruas soubessem o que isto vinha a ser efetivamente.
Desta vez, ao comprar a briga por um programa com razões mais do
que justas – levar médicos estrangeiros para os rincões do país onde os
brasileiros não queriam ir –, o governo acabou expondo a avareza das razões
corporativistas e da oposição ao programa liderada pelas associações médicas.
Dilma ganhou porque insistiu (e devia ter insistido em outras questões), e
ganhou marginalmente devido à incompetência política dos conselhos de medicina.
alfio bogdan
divulgado inicialmente no Carta Maior
Nenhum comentário:
Postar um comentário