sexta-feira, 18 de julho de 2014

As exigências da burguesia

“Todo o governo eleito precisa fazer concessão às imposições das elites” – entenda elites como detentores do capital. A gestão Dilma seria a exceção. A presidenta não adulou o empresariado, tomou decisões à sua revelia, destituindo do poder, todos aqueles que poderiam ser interlocutores junto aos homens de negócios, usou os recursos do Tesouro Nacional para fazer políticas distributivas e, mesmo quando buscou agradar os bem-nascidos o fez a seu modo, ou seja, mandando e desmandando.


É curiosa a inquietação face às despesas do Tesouro, mesmo porque as transferências de renda contemplam os socialmente menos favorecidos, mas também aqueles do topo da pirâmide social. Os mais ricos ficaram mais ricos, não obstante ficarem mais concentrados. “Nas profundezas do magma social, entretanto, alguma coisa acontece, e ela não desperta o sorriso de dentes alvos dos bem-nascidos. O professor Wanderley Guilherme dos Santos, sem dúvida o mais importante cientista político do país, encontra com segurança que o pano de fundo, é a jamais superada luta de classes, ao dizer: 

► A expansão do mercado de trabalho depende da taxa de investimento da economia e, esta, cabe ao empresariado privado proporcionar. Como se sabe, os industriais se mostram presas de paralisia decisória, insensíveis aos incentivos de toda ordem que o governo lhes acena. Segundo a interpretação corrente, trata-se de intensa aversão ao risco, causada por suposta insegurança jurídica, embora se leia diariamente que o governo reconsidera contratos sempre conciliando em favor dos investidores privados. O fluxo de recursos externos é um nervo exposto nessa matéria e nada indica que tenha estancado ou sofrido redução extraordinária. A charada pode ser outra”. 

► Ainda que a taxa de retorno sobre o capital investido seja superior à taxa de crescimento econômico em alguns setores, nem por isso o empresariado brasileiro está satisfeito com o crescimento da participação da renda média do trabalho, especialmente neste período de modesta expansão da economia. De acordo com Thomas Piketty, em seu volumosoO Capital no Século XXI”, é em períodos de morno desempenho que o capital consegue obter retornos superiores à taxa média de expansão da economia (sendo outro bônus a redução do crescimento populacional), que é o que dá dinamismo à subsequente concentração de renda. 

► No Brasil, depois do período de elevadas taxas de crescimento (governos Lula) em que aumentou a participação do trabalho na renda nacional, é plausível que os proprietários esperassem se apropriar, como no passado, de fatias maiores da renda. Redução das taxas de crescimento econômico e populacional tem sido o azeite do mecanismo de concentração da renda. Quer dizer, na ausência de políticas sociais redistributivas.
Alfio Bogdan - Físico e Professor Aposentado
Fonte: O discreto ódio da burguesia - João Bittencourt 

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