Inicialmente por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Avisem os adolescentes
que sonham, os vestibulandos que se iludem com o brilhareco da carreira e os
estudantes que ainda acham importante entender a semiótica: para chegar lá,
para manipular o microfone, surgir gloriosamente nas telas da televisão ou para
ver seu nome estampado em páginas de jornais e revistas, será preciso ter
estômago de avestruz e convencer a si mesmo de que é a pauta que inventa o
mundo.
Essa é uma das lições
que se pode extrair da cobertura que se segue ao desastre futebolístico do
Mineirão. O noticiário e o opiniário agasalhados pelos jornais desta
quinta-feira (10/7) nos apresentam o padrão que deverá balizar o jornalismo
brasileiro após a vexaminosa derrota da seleção nacional para a equipe da
Alemanha. [A presidenta tem que dividir o prejuízo da vexante derrota da
seleção brasileira frente à alemã]
Baixada a poeira da
decepção, quando as redes sociais extravasam em ironias e anedotas a capacidade
dos brasileiros de superar a tristeza com bom humor, eis que a imprensa resolve
abrir sua caixa de maldades. Não, os textos não condenam liminarmente os
principais responsáveis pelo fiasco dentro de campo: os jornais tratam de
transferir o peso da derrota para Brasília.
Editoriais e artigos,
diretamente, tentam fazer a conexão entre o fracasso da equipe de Luiz Felipe
Scolari e a disputa eleitoral, buscando uma relação entre política e futebol
que de alguma maneira vincule o governo federal ao frustrado projeto do
hexacampeonato.
A referência mais
explícita está na manchete do Estado de S. Paulo: “Dilma tenta se descolar do
fracasso da seleção”, diz o título no alto da primeira página. A frase afirma
que há um vínculo a priori entre o futebol e o campo da política. [Ai
registra-se a mais estúpidas das frases publicáveis.] “O que a presidenta fez
foi erigir as arenas e dar estrutura à realização da Copa eleita pelo jornalismo
internacional como a Copa das Copas, ou seja, a melhor de todas as Copas até
então disputadas”.
Ora, se existe esse
vínculo, convém que a imprensa esclareça ao público em que grupo político se
alinham o presidente da CBF, José Maria Marin, seu sucessor, Marco Polo Del
Nero, o coordenador técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira, e o técnico
Scolari.
Discursos de campanha,
frases de efeito e oportunismo caracterizam todas as disputas eleitorais. O
problema é o que a imprensa faz com tais manifestações. No caso, claramente, os
jornais resguardam os outros candidatos e expõem junto à foto da vergonhosa
derrota no futebol a imagem da presidente da República.
Querer transferir para
Brasília – DF, mais precisamente à presidenta Dilma, o fiasco da Seleção Verde
e Amarelo, mostra o escopo — ou sua falta — daqueles que vêm continuadamente vilipendiando
sobre a qualidade dos nossos eleitores no tocante às suas escolhas — com frequência
ouvimos e lemos que o brasileiro não sabe votar.
Futebol é esporte e
como tal não tem lógica, política é uma das mais específicas ciências da
relação humana e eleição é a escolha daqueles que melhor se fazem entendidos
pelo povão (dono do poder) que os elegem como representantes (que exercerão o
seu poder) conforme determina nossa Carta Política.
Alfio Bogdan Físico e Professor Aposentado
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