sexta-feira, 11 de julho de 2014

Mídia transfere o peso da derrota

Inicialmente por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

Avisem os adolescentes que sonham, os vestibulandos que se iludem com o brilhareco da carreira e os estudantes que ainda acham importante entender a semiótica: para chegar lá, para manipular o microfone, surgir gloriosamente nas telas da televisão ou para ver seu nome estampado em páginas de jornais e revistas, será preciso ter estômago de avestruz e convencer a si mesmo de que é a pauta que inventa o mundo. 

Essa é uma das lições que se pode extrair da cobertura que se segue ao desastre futebolístico do Mineirão. O noticiário e o opiniário agasalhados pelos jornais desta quinta-feira (10/7) nos apresentam o padrão que deverá balizar o jornalismo brasileiro após a vexaminosa derrota da seleção nacional para a equipe da Alemanha. [A presidenta tem que dividir o prejuízo da vexante derrota da seleção brasileira frente à alemã]

Baixada a poeira da decepção, quando as redes sociais extravasam em ironias e anedotas a capacidade dos brasileiros de superar a tristeza com bom humor, eis que a imprensa resolve abrir sua caixa de maldades. Não, os textos não condenam liminarmente os principais responsáveis pelo fiasco dentro de campo: os jornais tratam de transferir o peso da derrota para Brasília.

Editoriais e artigos, diretamente, tentam fazer a conexão entre o fracasso da equipe de Luiz Felipe Scolari e a disputa eleitoral, buscando uma relação entre política e futebol que de alguma maneira vincule o governo federal ao frustrado projeto do hexacampeonato.
A referência mais explícita está na manchete do Estado de S. Paulo: “Dilma tenta se descolar do fracasso da seleção”, diz o título no alto da primeira página. A frase afirma que há um vínculo a priori entre o futebol e o campo da política. [Ai registra-se a mais estúpidas das frases publicáveis.] “O que a presidenta fez foi erigir as arenas e dar estrutura à realização da Copa eleita pelo jornalismo internacional como a Copa das Copas, ou seja, a melhor de todas as Copas até então disputadas”.  

Ora, se existe esse vínculo, convém que a imprensa esclareça ao público em que grupo político se alinham o presidente da CBF, José Maria Marin, seu sucessor, Marco Polo Del Nero, o coordenador técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira, e o técnico Scolari.

Discursos de campanha, frases de efeito e oportunismo caracterizam todas as disputas eleitorais. O problema é o que a imprensa faz com tais manifestações. No caso, claramente, os jornais resguardam os outros candidatos e expõem junto à foto da vergonhosa derrota no futebol a imagem da presidente da República.

Querer transferir para Brasília – DF, mais precisamente à presidenta Dilma, o fiasco da Seleção Verde e Amarelo, mostra o escopo — ou sua falta — daqueles que vêm continuadamente vilipendiando sobre a qualidade dos nossos eleitores no tocante às suas escolhas — com frequência ouvimos e lemos que o brasileiro não sabe votar.

Futebol é esporte e como tal não tem lógica, política é uma das mais específicas ciências da relação humana e eleição é a escolha daqueles que melhor se fazem entendidos pelo povão (dono do poder) que os elegem como representantes (que exercerão o seu poder) conforme determina nossa Carta Política. 
Alfio Bogdan Físico e Professor Aposentado

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