“Todo o governo eleito precisa fazer concessão às
imposições das elites” – entenda elites como detentores do capital. A gestão Dilma
seria a exceção. A presidenta não adulou o empresariado, tomou decisões à sua
revelia, destituindo do poder, todos aqueles que poderiam ser interlocutores
junto aos homens de negócios, usou os recursos do Tesouro Nacional para fazer
políticas distributivas e, mesmo quando buscou agradar os bem-nascidos o fez a seu
modo, ou seja, mandando e desmandando.
É curiosa a inquietação face às despesas do Tesouro, mesmo
porque ≪as transferências de renda contemplam os socialmente menos
favorecidos, mas também aqueles do topo da pirâmide social≫. Os mais ricos
ficaram mais ricos, não obstante ficarem mais concentrados. “Nas profundezas do magma social, entretanto, alguma coisa
acontece, e ela não desperta o sorriso
de dentes alvos dos bem-nascidos”. ≪O professor Wanderley
Guilherme dos Santos, sem dúvida o mais importante cientista político do país, encontra
com segurança que o pano de fundo, é a jamais superada luta de classes, ao
dizer≫:
► “A expansão do mercado
de trabalho depende da taxa de investimento da economia e, esta, cabe
ao empresariado privado proporcionar. Como se sabe, os industriais se mostram
presas de paralisia decisória, insensíveis aos incentivos de toda ordem que o
governo lhes acena. Segundo a interpretação corrente, trata-se de intensa
aversão ao risco, causada por suposta insegurança jurídica, embora se leia
diariamente que o governo reconsidera contratos sempre conciliando em favor dos
investidores privados. O fluxo de recursos externos é um nervo exposto nessa matéria
e nada indica que tenha estancado ou sofrido redução extraordinária. A charada
pode ser outra”.
► Ainda que a taxa de retorno sobre o capital investido
seja superior à taxa de crescimento econômico em alguns setores, nem por isso o
empresariado brasileiro está satisfeito com o crescimento da participação da renda
média do trabalho, especialmente neste período de modesta expansão da economia.
De acordo com Thomas Piketty, em seu volumoso “O
Capital no Século XXI”, é em períodos de
morno desempenho que o capital consegue obter retornos superiores à taxa média
de expansão da economia (sendo outro bônus a redução do crescimento populacional),
que é o que dá dinamismo à subsequente concentração de renda.
► No Brasil, depois do período de elevadas
taxas de crescimento (governos Lula) em que aumentou a participação do trabalho
na renda nacional, é plausível que os proprietários esperassem se apropriar, como
no passado, de fatias maiores da renda. Redução das taxas de crescimento econômico
e populacional tem sido o azeite do mecanismo de concentração da renda. Quer
dizer, na ausência de políticas sociais redistributivas.
Alfio Bogdan - Físico e Professor Aposentado
Fonte: O discreto ódio da burguesia - João Bittencourt
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